A filha do arcediago

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Data

1868

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Editor

Cruz Coutinho

Resumo

Camilo Castelo Branco, visconde de Correa Botelho (Lisboa, Portugal, 16 de março de 1825 – Vila Nova de Famalicão, Portugal. 1 de junho de 1890), romancista, cronista, dramaturgo, historiador, poeta, foi um dos autores mais prolíferos da literatura portuguesa do século XIX. Numa sociedade que não dispunha de um número expressivo de leitores, nem os direitos autorais estavam ainda reconhecidos, Camilo teve que escrever muito, razão pela qual é o primeiro escritor português a viver do seu ofício. Em geral, a crítica tem classificado a produção camiliana em duas categorias: a novela passional e a novela satírica de costumes. Dentro da segunda categoria enquadra-se o romance A Filha do Arcediago, primeiro volume das “Cenas Contemporâneas”, subtítulo a indicar que Camilo, tal como Balzac, tinha a intenção de construir, no plano literário, amplo painel da sociedade portuguesa. A primeira edição da obra saiu em 1854, sendo a terceira, de 1868, publicada pela editora de Cruz Coutinho, do Porto. Como de costume, A filha Do Arcediago faz-se apresentar por um prefácio (não assinado por Camilo) no qual a voz autoral, no intuito de captar a credibilidade do leitor, usa do velho chavão ao declarar que tudo o que escreveu foi-lhe “contado por uma respeitável senhora”, que promete elevá-lo “à importância de escritor verídico, num gênero em que todos os meus colegas mentem sempre”. Difícil seria resumir o enredo da novela camiliana, tantas são as digressões e reviravoltas por que passa A Filha do Arcediago, narrativa por meio da qual o autor faz crítica ferina, mesclada de humor e ironia, à sociedade portuense do início do século XIX. A história foi construída com os ingredientes ficcionais que visavam à satisfação do leitor de folhetim: padres amancebados, filhos bastardos, clausura em convento, casamentos forçados, separações e reaproximações dos casais enamorados. Paralelamente ao desenrolar de uma história conhecida do leitor, de que participam personagens-tipo do romance rocambolesco, Camilo incha a narrativa com digressões de caráter metalingüístico, a incidir sobre os recursos técnicos de que o narrador lança mão. Como exemplo, vale citar o capítulo XX, onde se lê: “Vamos encontrar Rosa Guilhermina também casada com Augusto Leite. Sou o primeiro a confessar que o meu romance está caindo muito! Um casamento ainda pode aturar-se no fim do romance [...] ainda um casamento... passe! Mas dois casamentos! É abusar dos dons da igreja, ou romantizar o fato mais prosaico desta vida! Isto em mim creio que é falta de imaginação, ou demasiado servilismo à verdade!”. Outro exemplo é o capítulo XXVII, em que se apresenta a “Relação das pessoas que já morreram neste romance”. Por fim, nos últimos capítulos, o próprio narrador dá por encerrado o seu trabalho, passando o comando da narrativa para as personagens, quando o texto se transforma em romance epistolar: “Agora leitores, o meu trabalho termina aqui. As cartas, que ides ler, confiou-mas a pessoa, que me contou a história. São textuais. Podem ver-se em minha casa, desde até às quatro horas da tarde. Quem as escreve é um pintor, que teve nome no Porto, e pouco tempo furtou à desgraça para cultivar a arte. Quem as recebe é uma senhora, que ainda vive”.

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