A pasta d'um jornalista

Abstract

Boaventura Gaspar da Silva Barbosa, Visconde de São Boaventura (Lamego, 1855 – Lisboa, 1910), escritor e jornalista português, colaborou em diversos periódicos brasileiros, tendo sido fundador da República das Letras (1876) e do Diário Mercantil de São Paulo (1884). Ativo participante na campanha abolicionista, Boaventura Gaspar da Silva abandonou o gabinete dos jornais e internou-se nos sertões do Brasil, “pregando a verdadeira, a sã doutrina”, nas palavras de Abel Botelho (1855-1917), que assina o “antelóquio” da obra A Pasta D’Um Jornalista (Escritos políticos, literários e biográficos), publicada em Lisboa, pela editora Parceria Antonio Maria Pereira, em 1908. De regresso a Portugal, Gaspar Boaventura foi redator da Edição Quinzenal Ilustrada (1897-1898), extensão lusa do Jornal do Brasil (1891-2012), de propriedade de Fernando Mendes de Almeida (1845-1912) e Cândido Mendes de Almeida Filho (1866-1939), e que surgia como alternativa aos jornais predominantemente portugueses, que circulavam em Portugal, na proposta de uma representação mais equilibrada dos dois países. Essa é também a concepção do livro A Pasta D’Um Jornalista, reunião de pequenos textos, a maior parte de caráter biográfico, nos quais Boaventua Gaspar presta homenagem, em particular aos escritores brasileiros e portugueses, alguns dos quais mortos, entre os primeiros, Eduardo Prado, Ferreira de Araújo, José Bonifácio, e os segundos, Furtado Coelho, Rafael Bordalo, Antonio Rodrigues Sampaio. Dentre os amigos de Portugal, ganha destaque o imperador D. Pedro II, que em viagem a Portugal, em 1872, visitou três homens de letras: Alexandre Herculano, Camilo Castelo Branco e o visconde de Castilho. Quanto à situação dos portugueses no Brasil, e tendo por base o Relatório da Sociedade Protetora dos Portugueses Desvalidos, com sede em São Paulo, Silva Barbosa conclui: “É no Brasil que está hoje a alma portuguesa”.

Criada em São Paulo, em 1898, a Sociedade Protetora dos Portugueses Desvalidos procurava ajudar as famílias de imigrantes portugueses que vieram para São Paulo trabalhar nas fazendas do interior de São Paulo e também na capital paulista, então em fase de grande desenvolvimento econômico, e que por isso atraía os portugueses em busca de melhores condições de vida.