Religião

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    Le mysticisme en France au temps de Fénelon
    (Didier, 1865) Matter, Jacques
    Jacques Matter (1791-1864) foi inspetor-geral, pastor, escritor e professor de História Eclesiástica na Faculdade de Teologia Protestante de Estrasburgo. Nasceu em Alteckendorf, em 31 de maio de 1791. Estudou no ginásio Jean-Sturm, depois, no Seminário Protestante e, posteriormente, na Faculdade de Teologia. A fim de aprofundar seus conhecimentos partiu, em 1814, para Göttingen na Alemanha. Mais tarde, mudou-se para Paris, de 1815 à 1817. Em 1817, Matter defendeu duas teses importantes sobre História Antiga e, quatro anos mais tarde, obteve seu título de doutor em Teologia. Foi professor de História no Collège royal de Strasbourg, de 1818 à 1820. Em seguida, foi professor de filosofia no Seminário Protestante, de 1820 à 1843 e de 1846 à 1864. E, posteriormente, professor de História Eclesiástica na Faculdade de Teologia. Fundou algumas revistas pedagógicas, como L'instituteur primaire, le Visiteur des écoles e Le Manuel général d’instruction primaire, com o intuito de ajudar na formação de professores. Foi, também, Inspetor Geral de Bibliotecas. E seguida concentrou-se em suas pesquisas sobre doutrinas filosóficas esotéricas, criando assim a expressão “esotérisme” em francês, empregada no livro L’Histoire Critique du Gnosticisme (1828). Dentre suas principais obras figuram De l'affaiblissement des idées et des études morales, 1841; Le mysticisme en France au temps de Fénelon, 1865. É este que apresenta-se aqui, em sua segunda edição. O Misticismo na França no tempo de Fénelon pretende retraçar uma história do misticismo, sobretudo centrado na figura de François Fénelon (1651-1715), teólogo católico e escritor francês, autor de Les Aventures de Télémaque (1699) e Réfutation du père Malebranche (1687-1688). Percorre, assim, grande parte de seus textos importantes, como os Traité de l’éducation des filles (1687) e Traité du ministère des pasteurs (1688). Mas também alguns de seus opositores, como Jacques-Bénigne Bossuet (1627-1704), não sem assinalar as relações entre Fénelon e o quietismo de Madame Guyon (1648-1717).
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    Nouvelles études d’histoire religieuse
    (Calmann Lévy, 1884) Renan, Ernest
    Joseph Ernest Renan (1823-1892) foi um escritor, historiador e filósofo francês. Estudante de teologia no Seminário de Issy de 1841 a 1843, formação que interrompeu face a uma crise religiosa, dedicou-se aos estudos do orientalismo, com uma tese de doutorado em filosofia consagrada à obra de Averroès em 1852 e com a publicação de uma Histoire générale et système comparé des langues sémitiques (1855). Nesse momento escreve inúmeros artigos para a prestigiosa Revue des Deux Mondes e para o Journal des débats. Em 1862, ao retornar de uma missão arqueológica à Fenícia, Síria, Galiléia e Palestina, é nomeado professor de hebreu do Collège de France, sendo suspenso pouco depois em virtude de suas afirmações polêmicas sobre Jesus. É quando decide publicar La Vie de Jesus (1863), texto de enorme repercussão – num período, aliás, de várias outras “vidas de Jesus” como as de Auguste Sabatier e Bernhard Weiss – em que busca retraçar a existência histórica de Jesus, facultando ao estudo dos textos bíblicos, do mesmo modo, a possibilidade de uma análise historico-crítica. A ela se seguiriam outros estudos dedicados ao cristianismo, como os sete volumes de Histoire des origines du christianisme (1863-1883). Nesse contexto, situam-se também estes Novos estudos de história religiosa, de 1884, em cujo prefácio defenderia a separação da religião do Estado moderno, para que aquela se torne algo livre, “tão individual como a literatura, a arte e o gosto” (p. ix). Serve-se, para isso, do modelo da Inglaterra e dos Estados Unidos na perspectiva de um “progresso geral das luzes”, quando as “crenças sobrenaturais serão minadas lentamente” (p.xiii), mas sem deixe de sobreviver uma religião em sentido elevado para além dos dogmas da Igreja: “os dogmas são passageiros, mas a piedade é eterna” (p. xx). Estes Novos estudos pretendem-se, contudo, mais amplos do que a sugestão do prefácio e abarcam inúmeros assuntos: desde o paganismo, as traduções da Bíblia, Joaquim de Fiore, Galileu, São Francisco de Assis – este por quem seria devoto e que teria tido, depois de Jesus, “a religião a mais imediata da natureza”(p.iii) – passando por três breves estudos dedicados a Port-Royal, além de textos sobre Espinosa, arte religiosa ou sobre o método experimental em religião, em que afirmaria terem as religiões dos tempos atuais encontrado refúgio no coração, tornando-se poesia e sentimento (p. 11).
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    A propos d'histoire des religions
    (Emile Nourry, 1911) Loisy, Alfred
    Alfred Loisy (1857-1940) foi um renomado padre e teólogo francês. Ex-seminarista do Grand Séminaire de Chalons-en-Champagne, foi aluno de filosofia e, em seguida, professor do Institut Catholique de Paris, onde, desde cedo, esteve encarregado do ensino do texto bíblico. Doutor em teologia com uma tese sobre a história do cânone do Antigo Testamento, publicou La composition et l’interprétation historique des Livres Saints em 1892, em que já afirmaria a importância do método histórico-crítico na interpretação das escrituras. Em virtude disso, foi obrigado a afastar-se do Instituto, ao que seguiu a sua indicação, através de amigos, para um posto na École Pratique de Hautes Études em Paris. É nesse momento que publica L’Évangile et l’Église (1902), obra de enorme repercussão — há um exemplar na Casa Fernando Pessoa, por exemplo —, e uma das responsáveis pelo que se chamou de “crise modernista”. Loisy seria, como consequência, excomungado em 1908, conforme decreto promulgado pelo Santo Ofício: “todo mundo sabe que o padre Alfred Loisy, morador da diocese de Langres, ensinou e publicou teorias que arruínam o fundamento da fé cristã...” Foi posteriormente nomeado para a cátedra de História das religiões do Collège de France, que ocupará até 1933, período de numerosa produção exegética: de livros como La Naissance du christianisme (1933) e Les Origines du Nouveau Testament (1936), dentre outros. A respeito de História das religiões reúne cinco artigos anteriormente publicados por Loisy. O primeiro deles provém de um debate com o livro Orpheus (1909) de Solomon Reinach, a propósito da definição de religião a partir da ideia de tabu ou de um sistema de proibições. O segundo, também suscitado pela publicação de Reinach, dedica-se à popularização e ao ensino de história das religiões em ambiente escolar, face, duplamente, a uma neutralidade que poderia ser da ordem da negação religiosa e a um direito da “criança que crê de não ser violentamente despojada de uma fé que é parte integrante de sua vida moral”(p.20). O terceiro artigo percorre as noções de magia, ciência e religião, buscando semelhanças e diferenças entre elas. No caso da magia e da religião, afirma, por exemplo, que ambas são ritos tradicionais que supõem uma força misteriosa, mas possuem relação diversa com o organismo social ao qual pertencem (p.173). O quarto capítulo investiga a personalidade de Jesus em resposta a uma enquete do Hibbert journal de 1909 intitulada “Jesus ou Cristo” e baseada numa pergunta de Robert Richford Roberts sobre se o Jesus histórico não seria incompatível com o Cristo da teologia. O quinto capítulo, por fim, discute o livro O mito do Cristo do filósofo alemão Arthur Drews, segundo o qual Jesus não teria existido historicamente.
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    Manuale di patrologia
    (Ulrico Hoelpli, 1919) Franceschini, Pietro Girolamo
    Nesta obra P. G. Franceschini apresenta um manual de patrologia – isto é, um guia para a compreensão da vida e obra dos padres -, em que pretende realizar um estudo acerca da literatura produzida pela Igreja Católica desde a sua antiguidade. Aqui, Franceschini procura analisar a produção literária patrística desde o período designado pré-Niceno (ou seja, antigo, anterior ao século VI d.C), considerado o período áureo da literatura patrística, bem como sua subsequente decadência. A obra é dividida em três partes, além da introdução. Na “Introduzione” (“Introdução”), o autor procura justificar a necessidade de se estudar a antiga literatura cristã, questionar sua cientificidade, discutir os termos “Padre” e “Patrologia” dentro do paradigma católico, realizar uma primeira abordagem do que seria a literatura patrística, além de apresentar uma breve bibliografia de seus principais autores consultados e a divisão histórica da literatura em questão, na qual se fundamentará sua exposição. Na Parte Prima, (Primeira parte), Franceschini introduz o período literário pré-Niceno, buscando, a partir de quatro capítulos, subdivididos em diversas outras seções e acrescidos de alguns apêndices, abordar a literatura dos tempos primitivos imediatamente seguidos aos Apóstolos, tratando de padres e livros apócrifos do antigo e novo testamentos, dos apóstolos cristãos do século II, das relações entre gnosticismo e S. Irineu, e do início da vicência teológica. Na Parte Seconda (“Segunda parte”), o autor dissertará sobre o período áureo da literatura patrística. Dividida em quatro capítulos, também subdivididos e por vezes acrescidos de apêndices, a segunda parte procura introduzir os principais nomes da literatura cristã, apresentando uma breve bio-bibliografia de cada um, com local de nascimento, papeis desempenhados por eles na igreja, seus pensamentos e produções. Aqui, o autor tratará dos escritores de escola eclesiástica, dos grandes padres e teólogos gregos, orientais e ocidentais e de alguns escritores tidos como menores. Na terceira e última parte (“Parte terza”), Franceschini apresentará o último período e a decadência da literatura patrística, valendo-se de um esquema análogo aos anteriores. Nesta parte, o autor discorrerá sobre escritores orientais e latinos e sobre os poetas cristãos. A obra é uma referência para o estudo da literatura patrística, oferecendo um rico aparato bibliográfico com seus mais ilustres representantes.
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    Orpheus : histoire générale des religions
    (Alcide Picard, 1922) Reinach, Salomon
    Salomon Reinach foi um arqueólogo francês e especialista em história das religiões, que nasceu em Saint-Germain-en-Laye em 29 de agosto de 1858 e faleceu em Boulogne-Billancourt em 4 de novembro de 1932. Iniciou seus estudos na École Normale Supérieure antes de ingressar na escola francesa de Atenas, em 1879. Devido ao seu grande interesse por filosofia, traduziu o Ensaio sobre o livre árbitro de Schopenhauer, em 1877. Em 1880 publicou um Manual de filologia clássica e, em 1886, a Gramática Latina. Em 1887 foi nomeado assistente no Museu Nacional de Antiguidades em Saint-Germain-en-Laye, onde seria o curador assistente de 1893-1902 e diretor de 1902 até a sua morte. Ele organizou as salas do museu, multiplicou catálogos e inventários e compilou os diretórios das estátuas gregas e romanas, das pinturas da Idade Média e do Renascimento, e os vasos gregos e etruscos. Em 1902 criou o curso de história geral da arte em vinte e cinco lições destinado à Escola do Louvre. Sempre foi um grande defensor e propagador da cultura. A obra Orpheus Histoire Générale des Réligions, publicada pela primeira vez em 1907, discorre sobre a história da religião ao redor do mundo. Desde as primeiras manifestações religiosas até a consolidação do cristianismo, o autor traça um panorama do desenvolvimento religioso a fim de explanar como se deu a religião em cada continente de forma distinta, ressaltando, ainda, aspectos culturais de cada região, e como, a partir dessa perspectiva, originaram-se os costumes religiosos que diferenciam os povos.
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    Le problème de Jésus
    (Ernest Flammarion, 1914) Guignebert, Charles
    Charles Guignebert (1867-1939) foi um historiador francês, especialista em história do cristianismo, abordada sob a perspectiva e os métodos de Alfred Loisy, tendo, como este, contribuído para a crise modernista. Aluno de Ernest Renan, foi professor na Université de la Sorbonne de 1906 a 1937 após defender uma tese de doutorado sobre Tertuliano em 1902. Foi autor de livros como Jésus (1933), Le Monde juif vers le temps de Jésus (1935) e Le Christ (1943). O problema de Jesus interessa-se, como já o fizera Renan, pelo Jesus histórico, e pergunta-se desde o início pela realidade ou construção de sua figura. Retraça, para isso, uma história de questionamento do Jesus histórico, partindo de racionalistas do século XVIII como Bruno Bauer ou Albert Kalthoff, responsável por uma teoria que veria nos evangelhos sobretudo um movimento social influenciado pelo apocalipse judeu. Representariam, segundo Guignebert, uma “construção em que se encontram expostos, sob a forma simbólica de uma espécie de biografia, as primícias de um movimento social de tendência messiânica, que evolui rapidamente na direção de uma organização religiosa” (p. 55). No segundo capítulo, trata de alguns sistemas de reconstrução do cristianismo sem Jesus ou, por assim dizer, de explicações do nascimento e propagação do cristianismo com abstração da figura do Jesus histórico, como o de Arthur Drews, autor de O mito do Cristo (1909). Por fim, o terceiro capítulo, intitulado “A historicidade de Jesus”, tenta responder a alguns dos argumentos desses “negacionistas”. Contra Kalthoff, por exemplo, pergunta-se porque uma religião concebida como revolta social pregaria justamente valores como o amor fraterno e a caridade (p.125) ou porque os próprios judeus não teriam negado a existência de Jesus (p. 148).
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    Les mystères païens et le mystère chrétien
    (Émile Nourry, 1919) Loisy, Alfred
    Alfred Loisy (1857-1940) foi um renomado padre e teólogo francês. Ex-seminarista do Grand Séminaire de Chalons-en-Champagne, foi aluno de filosofia e, em seguida, professor do Institut Catholique de Paris, onde, desde cedo, esteve encarregado do ensino do texto bíblico. Doutor em teologia com uma tese sobre a história do cânone do Antigo Testamento, publicou La composition et l’interprétation historique des Livres Saints em 1892, em que já afirmaria a importância do método histórico-crítico na interpretação das escrituras. Em virtude disso, foi obrigado a afastar-se do Instituto, ao que seguiu a sua indicação, através de amigos, para um posto na École Pratique de Hautes Études em Paris. É nesse momento que publica L’Évangile et l’Église (1902), obra de enorme repercussão — há um exemplar na Casa Fernando Pessoa, por exemplo —, e uma das responsáveis pelo que se chamou de “crise modernista”. Loisy seria, como consequência, excomungado em 1908, conforme decreto promulgado pelo Santo Ofício: “todo mundo sabe que o padre Alfred Loisy, morador da diocese de Langres, ensinou e publicou teorias que arruínam o fundamento da fé cristã...” Foi posteriormente nomeado para a cátedra de História das religiões do Collège de France, que ocupará até 1933, período de numerosa produção exegética: de livros como La Naissance du christianisme (1933) e Les Origines du Nouveau Testament (1936), dentre outros. Os mistérios pagãos e o mistério cristão, conforme afirma o prefácio do livro, teve a sua origem num dos cursos de Alfred Loisy no Collège de France dedicado à questão do sacrifício em diferentes religiões – sacrifício que Loisy aprofundaria mais tarde em Essai historique sur le sacrifice (1920. Trata-se, aqui, desse lugar do sacrifício no paganismo, mas também na religião cristã: “há em todos esses cultos um mito da salvação e um rito da salvação estreitamente ligados; o rito como a continuação do fato divino inicial, que exprime o mito, e o meio de perpetuar sua eficácia benéfica. Zagreu devorado e retornado à vida, Deméter perdendo sua filha e a reencontrando, Átis mutilado, morto e ressuscitado, Osíris assassinado e desmembrado por Seth, ressuscitado por Isis, Mitra imolando o touro para a criação dos seres, o Cristo, morrendo para a salvação dos homens e ressuscitando na glória de seu Pai, puseram na origem o fato divino por meio do qual são salvos todos aqueles que, crendo em seu nome, recomeçarão misticamente nos ritos da iniciação sagrada a experiência da divina provação e do divino triunfo” (p.17). Loisy percorre, assim, na primeira metade do livro, cultos, mitos e mistérios consagrados a Dionísio, Orfeu, Elêusis, Cibele e Átis, a Isis e Osiris, Mitra, dentre outros. Na segunda, volta-se ao culto cristão e à pregação de Paulo, perguntando-se “como o Novo Testamento e especialmente as epístolas de São Paulo atestam a metamorfose que do profeta que anunciava o reino de Deus, do Messias que veio realizar a esperança de Israel, fez um deus salvador, um ser celeste encarnado para abrir aos homens por sua morte e sua ressurreição o caminho da imortalidade” (p.22).
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    Histoire des oracles
    (Édouard Cornely, 1908) Fontenelle, Bernard de
    Bernard Le Bouyer de Fontenelle foi um cientista, filósofo, escritor e dramaturgo francês que nasceu em Rouen, cidade situada no noroeste da França, em 11 de fevereiro de 1657, e faleceu em 9 de janeiro de 1757, com quase 100 anos, em Paris. Sobrinho dos acadêmicos e dramaturgos franceses Pierre e Thomas Corneille, frequentou o Colégio dos Jesuítas, estudou Direito e se dedicou muito cedo à literatura. Aos vinte anos foi contratado por seu tio Thomas como colaborador de sua revista Le Mercure galant, que tratava de diversos assuntos, sobretudo publicava histórias para entretenimento dos leitores e poesias. Em 1680 publicou a tragédia Aspar, cuja representação foi um fracasso. Ele, então, retornou para Rouen, e publicou entre 1682 e 1687 textos que o tornaram mais conhecido como filósofo e cientista do que como poeta (ele escreveu valiosos poemas, óperas e tragédias). Entre suas numerosas obras, as mais conhecidas são: La République des philosophes (A República dos Filósofos), romance utópico que exalta uma democracia radical, materialista e ateia; Les Dialogues des Morts (Diálogos dos Mortos), nos quais reproduz diálogos fictícios entre Sêneca e Scarron, Sócrates e Montaigne; um artigo irônico sobre a rivalidade entre as religiões judaica, católica e calvinista; Entretiens sur la pluralité des mondes (Debates sobre a pluralidade dos mundos), um ensaio sobre astronomia, no qual Fontenelle populariza os conhecimentos de Descartes e Copérnico; De l'origine des fables (Da origem das fábulas), um tratado sobre a origem das fábulas. Um homem dotado de vasto conhecimento, além de muitos ensaios científicos, escreveu também sobre a história do teatro e reflexões sobre poesia. Em 1687 publicou uma de suas grandes obras, Histoire des Oracles, um ensaio no qual denuncia a crença em superstições, traz à tona a história dos oráculos e semeia dúvidas sobre aspectos sobrenaturais. Inspirado em um tratado latino sobre oráculos, escrito pelo médico holandês Antonius van Dale em 1683, examina alguns comportamentos irracionais, baseados em crenças, e suscita, em sua obra, reflexões pungentes a respeito do assunto, promovendo um ataque direto ao cristianismo.
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    L'évangile et l'Eglise
    (L'auteur, 1904) Loisy, Alfred
    Alfred Loisy (1857-1940) foi um renomado padre e teólogo francês. Ex-seminarista do Grand Séminaire de Chalons-en-Champagne, foi aluno de filosofia e, em seguida, professor do Institut Catholique de Paris, onde, desde cedo, esteve encarregado do ensino do texto bíblico. Doutor em teologia com uma tese sobre a história do cânone do Antigo Testamento, publicou La composition et l’interprétation historique des Livres Saints em 1892, em que já afirmaria a importância do método histórico-crítico na interpretação das escrituras. Em virtude disso, foi obrigado a afastar-se do Instituto, ao que seguiu a sua indicação, através de amigos, para um posto na École Pratique de Hautes Études em Paris. É nesse momento que publica L’Évangile et l’Église (1902), obra de enorme repercussão — há um exemplar na Casa Fernando Pessoa, por exemplo —, e uma das responsáveis pelo que se chamou de “crise modernista”. Loisy seria, como consequência, excomungado em 1908, conforme decreto promulgado pelo Santo Ofício: “todo mundo sabe que o padre Alfred Loisy, morador da diocese de Langres, ensinou e publicou teorias que arruínam o fundamento da fé cristã...” Foi posteriormente nomeado para a cátedra de História das religiões do Collège de France, que ocupará até 1933, período de numerosa produção exegética: de livros como La Naissance du christianisme (1933) e Les Origines du Nouveau Testament (1936), dentre outros. O Evangelho e a Igreja tem como ponto de partida refutar as teses do teólogo protestante alemão Adolf von Harnack sobre a essência do cristianismo, conforme apresentadas sob forma de conferências em Das Wesen des Christentums (1900) e cuja doutrina principal seria a de que a centro do Evangelho consistiria unicamente na fé em Deus: “só o Pai e não o Filho é parte integrante da pregação evangélica de Jesus”. Para Alfred Loisy, diferentemente, tal essência deve ser buscada não apenas numa espécie de Evangelho de Jesus, ou no que teria sobrado dele, mas na tradição cristã primitiva como um todo: “Se uma fé, uma esperança, um sentimento, um impulso de vontade dominam o Evangelho e se perpetuaram na Igreja dos primeiros tempos, aí estará a essência do cristianismo, mesmo com as reservas que possamos fazer a respeito da autenticidade literal de algumas palavras ou modificações mais ou menos perceptíveis que o pensamento de Jesus deve ter sofrido ao ser transmitido de geração em geração” (p.xxii). Empreende, assim, uma cuidadosa crítica textual, mas em busca também do movimento religioso de que os textos evangélicos teriam sido a “expressão parcial” (p.6). Observa a coloração messiânica de algumas das narrativas do Evangelho, dentre as quais, as da infância do Cristo. Ou a noção de uma esperança coletiva de que se revestiria o anúncio do reino dos céus fundado na escatologia (p.41e ss.) Contesta a dimensão psicológica que Harnack atribuiria à ideia evangélica de filho de Deus. Toda essa atenção aos textos, à sua situação histórica, tanto quanto a afirmação da permeabilidade desses textos a opiniões e costumes contemporâneos a eles, constituíram a razão da polêmica de L’Évangile et l’Église. É possível pressenti-la em momentos em que Loisy, com notável clareza, explicita: “Jesus foi, sobre a terra, o grande representante da fé. Ora, a fé religiosa só pode se apoiar em símbolos mais ou menos imperfeitos” (p.105). Ou em outros, em que situaria, como Ernest Renan, o lugar histórico e religioso de Jesus: “não deixa de ser verdade que Jesus recolheu e deu vida ao melhor do capital religioso de Israel, e que não o transmitiu como um simples depósito que bastaria apenas aos crentes de todas as idades vigiar, mas como fé viva” (p.125). Não deixam de surpreender, contudo, frases que, descontextualizadas pelos leitores de Loisy, foram a causa da proibição do livro, como: “Jesus anunciava um reino, e foi a Igreja que surgiu”. (p.153) Ou ainda: “se o fim do mundo tivesse chegado nos anos que se seguiram à publicação do Apocalipse, o desenvolvimento eclesiástico não teria acontecido, e a Igreja mal teria existido” (p.161). Elas sugerem o caráter de um desenvolvimento doutrinal ilegítimo, elaborado pela Igreja, que Loisy estaria longe de afirmar e contra o qual se manifestaria em Autour d’un petit livre (1903). Ao contrário, para ele haveria algo de bastante positivo na “condição perpetuamente cambiante da inteligência e das vidas humanas” (p.210), às quais o historiador das religiões deve estar atento. Dedica-se, portanto também ao estabelecimento do culto católico (da Virgem, dos santos, das relíquias), que será matéria da última parte de seu livro.
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    L'Essenza del cristianesimo
    (Fratelli Bocca, 1908) Harnack, Adolf von
    Carl Gustav Adolf von Harnack (1815-1930) foi um teólogo luterano alemão e proeminente historiador da igreja. Professor e doutor em teologia, direito, medicina e filosofia, além de conselheiro político, von Harnack é considerado o mais notável teólogo protestante e historiador da Igreja do fim do século XIX e do início do século XX, além de um dos mais importantes teóricos do nacionalismo liberal e protestantismo alemão.O período mais frutífero do autor vai de 1873 a 1912, momento em que Harnack traça, a partir de várias publicações, a influência da filosofia helenística em escritos cristãos, e estimula os cristãos a questionar a originalidade das doutrinas que surgiram na Igreja. Para o autor, o cristianismo deve romper com o dogmatismo teológico e buscar um retorno à religião da Igreja primitiva, ou seja, ao evangelho do próprio Jesus, por meio do estudo rigoroso da história da doutrina cristã. Da mesma forma, ele também rejeitou o Evangelho de João por considerá-lo não histórico e criticou o Credo dos Apóstolos por conta da adição de pontos doutrinais nunca propostos por Jesus ou pelos primeiros líderes da Igreja. A presente obra, “L'essenza del cristianesimo” - originalmente do alemão Das Wesen des Christentums, ou, em português, A essência do cristianismo – foi o resultado das dezesseis conferências proferidas a 600 estudantes na Universidade de Berlim em 1899/1900. Seu conteúdo representa a expressão mais sintética da pesquisa crítica e do projeto da teologia liberal alemã, de modo que a obra se tornou logo um ponto de referência para as discussões teológicas, que atingiram seu ponto mais dramático com a crise modernista, e foi alvo de intensas críticas de teólogos conservadores. O ponto de vista adotado para a reflexão que guia tais conferências é, como dissemos anteriormente, histórico. Aqui, Harnack colocará em discussão temas como as relações do evangelho com as questões sociais, o direito, a justiça superior, as instituiçoes temporais, a civilização, o trabalho, com a questão cristológica, e da doutrina evangélica com o símbolo, além de procurar pensar historicamente o evangelho e a religião cristã no século apostólico, sua revolução rumo ao catolicismo, bem como seu desenvolvimento no catolicismo grego e romano e no protestantismo.
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    Saint Grégoire VII
    (J. Gabalda, 1920) Fliche, Augustin
    Augustin Fliche foi um historiador francês que nasceu em Montpellier em 19 de novembro de 1884 e faleceu em 19 de novembro de 1951. Estudou história na Sorbonne e dedicou-se, principalmente, aos estudos da igreja medieval. Entre suas obras mais conhecidas estão as biografias de Filipe I, rei da França, e de Gregório VII, um dos papas mais influentes da história, e suas respectivas reformas. Também escreveu um importante livro que apresenta um panorama geral da história medieval. Em 1912 obteve o título de doutor com tese sobre Filipe I, rei da França. Em 1913, com aproximadamente 30 anos, lecionou na Faculté de Lettres de Bordeaux e, após a guerra, em 1919, foi nomeado professor de história da idade média na Faculté de Montpellier, onde permaneceu por muitos anos e foi reitor de 1934 à 1946. Foi também vice-presidente do Comitê Nacional Francês de Ciências Históricas. Augustin Fliche era bastante religioso e não há dúvidas de que o seu fervoroso catolicismo o ajudou em suas pesquisas. Em 1920 Fliche escreveu Saint Gregoire VII, um livro no qual o autor vai discorrer sobre a vida do Papa Gregório VII, nascido Hildebrando, ele descreve também a sua fé, sua piedade, sua caridade, seu espírito de justiça, e conclui: “Gregório VII teve lugar entre os santos da Igreja, e todos os historiadores concordam que tal tributo era merecido.” Além do mais, o autor fala dos conflitos que ocorreram na época e das reformas políticas e religiosas promovidas por esse ícone religioso.
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    Le Théosophisme : histoire d'une pseudo-religion
    (Nouvelle Librairie Nationale, 1921) Guénon, René
    René Guénon (1886-1951), conhecido também como Abd al-Wâhid Yahyâ, foi um filósofo francês. Com formação em matemática, dedicou-se desde cedo às ciências ocultas, através da Escola superior livre das ciências herméticas fundada por Papus. Foi membro também da Igreja gnóstica, cuja revista La Gnose dirigiria nos anos 1910. Foi através dela que publicou livros como Le Symbolisme de la Croix (1934). A partir dais e voltaria aos estudos das doutrinas do Oriente, em seguida à iniciação no Islã. Publicou em 1921 uma introdução às doutrinas hindus e Le Théosophisme. A eles se seguiram livros como L’Ésotérisme de Dante (1925) e La Crise du monde moderne (1927). Em vários deles, postulou a existência de uma doutrina metafísica universal para a qual convergiriam as diversas religiões. Sua obra foi importante para a recepção do esoterismo no Ocidente e teve influência em autores como Mircea Eliade, Raymond Queneau ou André Breton. Publicado pela coleção intitulada Biblioteca francesa de filosofia, dirigida por Jacques Maritain, O Teosofismo: história de uma pseudo-religião de René Guénon é uma história da Sociedade teosófica fundada pela Helena Blavatsky (1831-1891). Através do uso da noção de teosofismo, para separá-la do termo “teosofia”, corrente esotérica de tradição antiga, Guénon visa combater a Société Théosophique, responsável, segundo ele, por uma pseudo-religião que já teria feito mais de 25000 vítimas, esta “a razão principal para a elaboração deste trabalho” (p. 301). Busca, assim, ao longo do livro, desvendar as inúmeras contradições dessa nova doutrina, que seria, para Guénon, uma “mistura confusa de neo-platonismo, gnosticismo, cabala judaica, hermetismo e ocultismo” (p.100). Num dos capítulos centrais, evidencia todos os equívocos, com atenção especial à tradução dos termos sânscritos, da apropriação por parte da Société Thésophique do Budismo, para afirmar a incoerência de uma reivindicação orientalista por parte da doutrina teosofista, sobretudo partindo da ideia de evolução (p.107). Além disso, denunciaria as relações entre a Société Théosophique e inúmeras organizações “pseudo-iniciáticas”, como a O.T.O, a Ordem dos Templários Orientais, fundada por Karl Kellner, ou a sociedade inglesa Hermetic Order of the Golden Dawn in the Outer, fundada em 1888 por William Wynn Westcott.
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    Le Dogme de la Trinité dans les trois premiers siècles
    (Émile Nourry, 1907) Dupin, Antoine
    Antonie Dupin é um dos pseudônimos utilizados por Joseph Turmel (1859-1943), historiador e teólogo francês. Formando em filosofia e teologia pelo Grande Seminário da Arquidiocese de Rennes, Turmel foi ordenado padre em 1885 na Faculdade de Teologia da Universidade de Angers e, no mesmo ano, começou a lecionar Doutrina Dogmática. Seus pontos de vista liberais o levaram a perder sua cadeira na Universidade. Após isso, passou grande parte de sua vida – de 1893 à 1930 – exercendo a atividade de capelão num convento de freiras em Rennes. Durante esses anos, dedicou-se ao estudo dos dogmas e tornou-se perito em Patrística. Na época do Modernismo, Turmel era visto como um influente pensador. Em 1886, Turmel dizia ter perdido a fé católica, porém continuou seus vínculos com a Igreja. Começou a publicar artigos e parte de suas obras levava seu nome e outra parte, o de pseudônimos, dentre eles: Henri Delafosse, Louis Coulange, Hippolyte Gallerang, Guillaume Herzog, Edmond Perrin, André Lagarde e Antoine Dupin. Em 1910, recusou-se a fazer o juramento antimodernista. Assim, iniciou-se o processo de excomunhão, que se deu em 6 de novembro de 1930. Suas obras foram condenadas e proibidas pelo índex da Igreja Católica Romana. Turmel morreu em 5 de fevereiro de 1943, durante a Primeira Guerra Mundial. Suas principais obras são, como Joseph Turmel, a Histoire des dogmas (6 volumes, 1931), como Antoine Dupin, Le dogme de la Trinité dans les trois premiers siècles (1907) e Réfutation du catéchisme (1937) e, como Louis Coulange, Catéchisme pour adultes (2 volumes, 1929). O breve estudo O Dogma da trindade nos três primeiros séculos percorre em três capítulos as origens do que chamaria, no primeiro deles, de Tríade cristã: Deus, Cristo e Espírito Santo, com a introdução da fórmula ternária nas cerimônias de batismo do primeiro século, no período de Clemente, e a posterior associação dessa tríade nos rituais litúrgicos sob influência de São Paulo. O segundo capítulo parte noção de logos ou verbo, conforme presente no Evangelho de João, e da dificuldade de sua conciliação com a liturgia, até Orígenes e a teologia das hipóstases, a que se seguiria a Trindade de Tertuliano, para a qual Deus, Jesus e o Espírito Santo seriam graus diferentes da mesma substância (p.42). Por fim, o terceiro capítulo aborda as três Tríades que teriam se popularizado entre os séculos II e III: de Calisto, Sabélio e Tertuliano.
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    Choses passées
    (Emile Nourry, 1913) Loisy, Alfred
    Alfred Loisy (1857-1940) foi um renomado padre e teólogo francês. Ex-seminarista do Grand Séminaire de Chalons-en-Champagne, foi aluno de filosofia e, em seguida, professor do Institut Catholique de Paris, onde, desde cedo, esteve encarregado do ensino do texto bíblico. Doutor em teologia com uma tese sobre a história do cânone do Antigo Testamento, publicou La composition et l’interprétation historique des Livres Saints em 1892, em que já afirmaria a importância do método histórico-crítico na interpretação das escrituras. Em virtude disso, foi obrigado a afastar-se do Instituto, ao que seguiu a sua indicação, através de amigos, para um posto na École Pratique de Hautes Études em Paris. É nesse momento que publica L’Évangile et l’Église (1902), obra de enorme repercussão — há um exemplar na Casa Fernando Pessoa, por exemplo —, e uma das responsáveis pelo que se chamou de “crise modernista”. Loisy seria, como consequência, excomungado em 1908, conforme decreto promulgado pelo Santo Ofício: “todo mundo sabe que o padre Alfred Loisy, morador da diocese de Langres, ensinou e publicou teorias que arruínam o fundamento da fé cristã...” Foi posteriormente nomeado para a cátedra de História das religiões do Collège de France, que ocupará até 1933, período de numerosa produção exegética: de livros como La Naissance du christianisme (1933) e Les Origines du Nouveau Testament (1936), dentre outros. Escrito poucos anos depois de sua excomunhão, Coisas passadas é uma breve autobiografia. Nela Loisy se vê como alguém cuja fé ingênua levou à carreira eclesiástica e que não pretendeu, face à evolução de seu pensamento e diante de questões históricas e teológicas, “provocar no catolicismo uma espécie de cisma ou heresia”. Assim, e ao longo de oito capítulos, testemunha apenas em defesa de sua própria história e do “modernismo católico” que teria sido “traduzido com violência à opinião pública”. Percorre, portanto, desde seus anos anteriores ao sacerdócio, descrevendo sua casa natal em Ambrières e sua dedicação precoce aos estudos, até o momento de sua entrada no Collège de France, para ocupar a cátedra anteriormente pertencente a Jean Réville. Passa, igualmente, pelos momentos conturbados da publicação de L’Évangile et l’Église e de sua excomunhão, revelando trechos de sua correspondência no período e de seu diário, onde anotara: “A ortodoxia é a quimera das pessoas que nunca pensaram (...). Todas as pessoas sabem que o sistema do absolutismo romano, no rigor de suas pretensões, é absurdo, imoral, irrealizável. Mas será esse sistema o catolicismo, e pode-se ser católico hoje apesar da Igreja e do papa?” (p.308).
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    Le christianisme antique
    (Ernest Flammarion, 1921) Guignebert, Charles
    Charles Guignebert (1867-1939) foi um historiador francês, especialista em história do cristianismo, abordada sob a perspectiva e os métodos de Alfred Loisy, tendo, como este, contribuído para a crise modernista. Aluno de Ernest Renan, foi professor na Université de la Sorbonne de 1906 a 1937 após defender uma tese de doutorado sobre Tertuliano em 1902. Foi autor de livros como Jésus (1933), Le Monde juif vers le temps de Jésus (1935) e Le Christ (1943). O Cristianismo antigo foi escrito como complemento ao livro L’Évolution des dogmes (1910), e a partir de ideia principal: a de que os dogmas se adaptam e se renovam, e que as religiões tampouco são homogêneas; diferentemente, compõem-se de camadas estratificadas que cabem ao historiador identificar, sobretudo face a um período complexo para a religião cristã como foi o que se estendeu do século II ao IV, em que se constituíram a dogmática ortodoxa, a hierarquia clerical e a liturgia. É a esses momentos de constituição da religião cristã que se dedica Guignebert, partindo de suas origens judaicas, da composição dos Evangelhos e da presença de Jesus, da atuação dos apóstolos e de São Paulo, até chegar à fundação e organização da Igreja, não sem dizer, na esteira de Alfred Loisy, que Jesus “não fundou nem quis a Igreja” (p. 160).
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    Les Livres du Nouveau Testament
    (Émile Nourry, 1922) Loisy, Alfred
    Alfred Loisy (1857-1940) foi um renomado padre e teólogo francês. Ex-seminarista do Grand Séminaire de Chalons-en-Champagne, foi aluno de filosofia e, em seguida, professor do Institut Catholique de Paris, onde, desde cedo, esteve encarregado do ensino do texto bíblico. Doutor em teologia com uma tese sobre a história do cânone do Antigo Testamento, publicou La composition et l’interprétation historique des Livres Saints em 1892, em que já afirmaria a importância do método histórico-crítico na interpretação das escrituras. Em virtude disso, foi obrigado a afastar-se do Instituto, ao que seguiu a sua indicação, através de amigos, para um posto na École Pratique de Hautes Études em Paris. É nesse momento que publica L’Évangile et l’Église (1902), obra de enorme repercussão — há um exemplar na Casa Fernando Pessoa, por exemplo —, e uma das responsáveis pelo que se chamou de “crise modernista”. Loisy seria, como consequência, excomungado em 1908, conforme decreto promulgado pelo Santo Ofício: “todo mundo sabe que o padre Alfred Loisy, morador da diocese de Langres, ensinou e publicou teorias que arruínam o fundamento da fé cristã...” Foi posteriormente nomeado para a cátedra de História das religiões do Collège de France, que ocupará até 1933, período de numerosa produção exegética: de livros como La Naissance du christianisme (1933) e Les Origines du Nouveau Testament (1936), dentre outros. Os Livros do Novo Testamento reúnem a totalidade dos Evangelhos, as cartas de Paulo, o Apocalipse de João, os Atos dos Apóstolos, bem como o Evangelho e o Apocalipse de Pedro, dispostos numa possível ordenação cronológica. Ela provém do aprofundamento da visada histórica de Alfred Loisy, na apresentação erudita à reunião, tanto quanto à cada uma de suas partes.Tal visada diz respeito, sobretudo, à atribuição e datação dos textos. Para Loisy,“com exceção das epístolas de Paulo não há um único texto do Novo Testamento cuja atribuição não seja contestável e a data indecisa” (p.8). O Evangelho teria, inicialmente, consistido num ensinamento oral para, só mais tarde, diante do progresso da religião, assumir a forma escrita. Assim, textos como o Apocalipse de João seriam compilações ou teriam sido escritos, ao menos, por um autor e um editor (p. 559). Segundo Loisy, “homens inspirados emprestaram ao Cristo discursos que ele não havia pronunciado, gestos que ele não havia feito, mas que eles tinha visto; outros podem ter escrito em nome de Pedro ou de Paulo, pondo-se em seus lugares numa espécie de visão ou sem quase se dar conta do que chamaríamos de fraude. Na maior parte dos casos, talvez, o nome suposto seja apenas uma honrada etiqueta para dar valor a tal ensinamento ou regra disciplinar que se julgavam dignas dessa recomendação” (p.11) Nesse sentido, a tradução proposta se serve de colchetes para indicar possíveis interpolações nos textos, assim como pretende-se próxima das variações de estilo do texto original.
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    L'Impero romano e il cristianesimo : studio storico
    (Fratelli Bocca, 1914) Manaresi, Alfonso
    Este trabalho de Manaresi é composto por um estudo compreensivo, mas não exaustivo, das relações entre a Igreja Cristã e o Estado Romano, abrangendo o período compreendido entre os reinos do imperador Cláudio e o de Constantino. Apresenta-se como uma coleção expositiva de fatos e conclusões bem estabelecidos, valendo-se apenas de documentos de autenticicidade inquestionável. Apesar de não apresentar novas teorias de caráter histórico ou jurídico para explicar a oposição entre o Cristianismo e o Estado Romano, lançando mão de outros estudos e relacionando-os no corpo da narrativa, a obra apresenta grande valor justamente por apresentar rica bibliografia, configurando-se como uma súmula eficaz – ainda que parcial e por vezes conservadora – para o estudo do tema. Seguindo um plano cronológico, e realizando uma discussão não exaustiva das fontes, o autor aborda a tolerância Romana com relação à religião, priorizando a hostilidade direcionada aos cristãos, em um território em que reinava o sincretismo religioso - de que, de acordo com o autor, os próprios cristãos se excluíram, ocasionando a perseguição de seus seguidores. O trabalho é um excelente sumário do que foi realizado em uma difícil e ampla área de pesquisa. Ele apresenta uma leitura mais aproximada de outros trabalhos, é erigido sobre referências acuradas e contém uma excelente bibliografia.
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    Études évangéliques
    (Alphonse Picard et fils, 1902) Loisy, Alfred
    Alfred Loisy (1857-1940) foi um renomado padre e teólogo francês. Ex-seminarista do Grand Séminaire de Chalons-en-Champagne, foi aluno de filosofia e, em seguida, professor do Institut Catholique de Paris, onde, desde cedo, esteve encarregado do ensino do texto bíblico. Doutor em teologia com uma tese sobre a história do cânone do Antigo Testamento, publicou La composition et l’interprétation historique des Livres Saints em 1892, em que já afirmaria a importância do método histórico-crítico na interpretação das escrituras. Em virtude disso, foi obrigado a afastar-se do Instituto, ao que seguiu a sua indicação, através de amigos, para um posto na École Pratique de Hautes Études em Paris. É nesse momento que publica L’Évangile et l’Église (1902), obra de enorme repercussão — há um exemplar na Casa Fernando Pessoa, por exemplo —, e uma das responsáveis pelo que se chamou de “crise modernista”. Loisy seria, como consequência, excomungado em 1908, conforme decreto promulgado pelo Santo Ofício: “todo mundo sabe que o padre Alfred Loisy, morador da diocese de Langres, ensinou e publicou teorias que arruínam o fundamento da fé cristã...” Foi posteriormente nomeado para a cátedra de História das religiões do Collège de France, que ocupará até 1933, período de numerosa produção exegética: de livros como La Naissance du christianisme (1933) e Les Origines du Nouveau Testament (1936), dentre outros. Contemporâneos à publicação de L’Évangile et l’Église, porém sem contar com sua enorme difusão, os cinco estudos reunidos em Estudos evangélicos aprofundam a leitura do texto do Novo Testamento. O primeiro deles, dedicado às parábolas, pretende, conforme afirma na introdução do livro, “examinar a autenticidade, a natureza, o objetivo e o objeto das parábolas”, questionando o fato de elas eventualmente provirem de outras fontes, como da tradição rabínica, ou terem sido interpoladas no texto dos evangelhos sinópticos. Assim, percorre trechos como a visita de Jesus a um dos chefes fariseus (Lucas, 14), para observar o caráter “frágil e arbitrário” da interpolação, que daria a impressão de constituir a parábola o texto de base original, retocada e completada por trechos descritivos ou doutrinais/alegóricos, “ornando a narrativa ou estendendo a sua significação” (p.27). Do mesmo modo, relaciona as parábolas com a “lei da poesia hebraica”, que seria o paralelismo, vendo-as, contudo, como o centro do ensinamento escatológico de Jesus: “em nenhum outro lugar podemos compreender melhor a noção do reino dos céus que Jesus pregou, o papel que atribui para si no reino, e a realidade do Evangelho vivo” (p.101). Os demais estudos concentram-se no Evangelho de João que, segundo Loisy, faria que a alegorização dos fatos, parcial nos evangelhos sinópticos, abarcasse toda a história do Cristo. Estão dedicados à interpretação de quatro momentos precisos: o prólogo (João 1, 1-18), em que interpretaria a questão do logos/verbo, a encarnação do verbo no batismo de João Batista e o modo com que o texto inicial abraça todo o desenvolvimento posterior do Evangelho; “a água e o espírito” (João 3, 1-21), em que analisa o diálogo de Jesus e Nicodemos e a teoria do “nascimento espiritual” associada com o batismo; “o pão da vida” (João 6), sobre a narrativa da multiplicação dos pães e sua relação com o pensamento da eucaristia, o anúncio da traição de Judas e a paixão, a partir de uma “lógica da transcendência que governaria as antecipações do Evangelho de João” (p.305); e, finalmente, “o grande exemplo”, sobre a cena do lava-pés (João 13, 1-20) e sua relação, menos com a ideia de purificação, do que com a concepção da caridade, de uma “vida sacrificada por amor” (p.325).
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    Le système historique de Renan
    (G. Jacques, 1905) Sorel, Georges
    "Georges Sorel (1847-1922) foi um filósofo e sociólogo francês. Autor de estudos em várias áreas, como a meteorologia, a física, a religião, a partir de 1893 afirma sua adesão ao socialismo e ao marxismo, publicando em revistas francesas como L’Ère nouvelle e Le Devenir social. Em colaboração com Hubert Lagardelle, contribuiu para a formulação de uma teoria do sindicalismo operário, momento em que escreveria um de seus livros mais conhecidos, intitulado Reflexões sobre a violência (1908; traduzido em português: Martins Fontes, 1993). Pouco depois, diante do que veria como uma crise do marxismo (La Décomposition du marxisme, 1908) aderiu ao movimento monarquista Ação Francesa de Charles Maurras e participou da revista conservadora L’indépendance, embora tenha se declarado a favor dos bolcheviques diante da Revolução Russa. Seu pensamento influenciou vários políticos e intelectuais da esquerda e da direita no século XX. Foram publicados na França, entre 1983 e 1989, sete números do Cahiers Georges Sorel, com vários artigos dedicados a ele. O sistema histórico de Renan, publicado em 1906, percorre de forma detalhada a obra do importante escritor francês, Ernest Renan, sobretudo a Vida de Jesus e as Origens do cristianismo, observando virtudes como a de ter subtraído à exclusividade de teólogos o estudo das origens cristãs, mas também à dos estudos religiosos, na medida em que essas origens interessariam à história dos costumes, das instituições e das ideias: “acho que o socialismo teria vários ensinamentos a extrair da conquista cristã” (p.2). Este, aliás, seria um dos paralelos organizadores do livro, entre socialismo e cristianismo, a partir do fio condutor dessa “conquista cristã”, que, segundo Sorel, Renan veria atrelada ao judaísmo: “edição do judaísmo acomodada ao gosto indo-europeu” (p.466). Trata-se de uma teoria que, para Sorel, teria um componente misterioso. Segundo ele, “se na Idade Média foi preciso imprimir ao cristianismo a maior deformação para adaptá-lo às necessidades espirituais e morais das raças arianas, como se torna difícil compreender a conquista do mundo Greco-latino por uma religião ainda totalmente semítica?” (p.467). Contra essa hipótese e várias outras de Renan, portanto, Sorel apresentaria as suas próprias, num livro que assumiria, em quase todo momento, o tom polemista. Retomam-se trechos bíblicos, confrontam-se interpretações. No caso dessa dimensão judaica, observaria que “os governos feudais, as cruzadas, a Inquisição” teriam deixado mais rastros do que o profetismo judaico, mas que, apesar disso, o cristianismo teria sido capaz, ao longo da história, de rejuvenescer em várias oportunidades com o interesse sempre de restaurar “alguma coisa dos tempos legendários do cristianismo, de retornar aos sentimentos que animavam as primeiras populações cristãs” (p.76). As crises seriam, assim, retornos à origem apoiados pela Igreja. Nesse sentido, e em diálogo com a obra de Renan, Sorel percorria o que chamou de núcleo fundamental: o período que se estende da morte de Jesus aos tempos de estabelecimento de uma autoridade canônica, período em que veria a importação de noções gregas, ou “ideias arianas” em ambiente semítico e a sua posterior propagação pela Europa, já que o cristianismo “só fez levar as populações arianas um renascimento de sua própria religião” (p.469)"
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    La chasse aux luthériens des Pays-Bas : souvenirs de Francisco de Enzinas
    (Louis-Michaud, 1910) Savine, Albert
    Nesta obra, o autor, editor e tradutor francês Albert Savine reedita as memórias de Francisco de Enzinas acerca da caça aos protestantes nos Países Baixos no século XVI. O ponto de partida para o autor foram as memórias de Enzinas, humanista protestante nascido na Espanha em 1518 e morto na Bélgica em 1552, o primeiro a traduzir o Novo Testamento do grego para o castelhano. A obra trata dos primeiros esforços dos reformadores luteranos, de sua resistência ao rei Carlos Quinto e aos seus ministros. Enzinas, que se referia a si mesmo como Dryander a fim de despistar seus perseguidores, fora estudante da Universidade Católica de Louvain, na Bélgica francófona, onde travou conhecimento de obras e militantes luteranos, dando início à sua carreira de escritor e tradutor, cuja produção fundamentou as traduções de caráter protestante da Bíblia para o espanhol. Esta obra constitui-se de suas memórias, reeditadas por Savine com o intuito de simplificar a leitura ao leitor de francês do início do século XX. A obra conta, ainda, com diversas gravuras, em sua maior parte emprestadas da rica coleção do fazendeiro-general Lallemant de Betz, que ilustram e complementam a produção.