Navegando por Assunto "Literatura Brasileira - Século XIX"
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Item Notas de um revoltoso : diário de bordo(Typ. Moraes, 1895)Os primeiros anos da República foram marcados por uma série de revoltas que colocam em xeque a vigência do poder constituído. Dentro de um cenário de disputas políticas, em que o Exército tentava dar forma a uma república centralizada, enquanto a Marinha via-se afastada do processo de organização do novo Estado, eclode a Revolta da Armada de 6 de setembro de 1893, ocorrida no Rio de Janeiro. O conflito tem como causa imediata a sucessão presidencial. Ao assumir a presidência, após a renúncia do marechal Deodoro da Fonseca, Floriano Peixoto não organiza uma nova eleição. A medida feria o artigo 42 da Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, de 24 de fevereiro de 1891, que determinava que, em caso de vacância da presidência ou da vice-presidência, e não havendo decorrido dois anos do período presidencial, nova eleição deveria ser realizada. O desacato presidencial deu origem a uma série de eventos, dentre os quais o Manifesto dos Treze Generais, documento em que os oficiais reivindicavam a realização de novas eleições. A reação de Floriano não se fez esperar, sendo decretada imediata prisão dos signatários. A 6 de setembro de 1893 a Armada sitia o Rio de Janeiro, dando início a um conflito que se estenderia até março de 1894, sendo os revoltosos derrotados. Poucos anos depois do conflito, a Revolta da Armada era objeto de um número significativo de obras, algumas das quais escritas no calor da hora, de um lado, aquelas que homenageavam Floriano Peixoto, de outro, as que o atacavam violentamente. Dentre estas, ganha destaque Notas de um revoltoso (diário de bordo), publicada no Rio de Janeiro, em 1895, pela Tipografia Moraes, sem identificação do autor. Originalmente, o livro saiu em capítulos no jornal O Comércio de São Paulo, informação a constar na página de rosto, e na qual o jornal paulistano é apontado como “a folha de maior tiragem do Estado de S. Paulo”. No diário paulistano, as notícias sobre o conflito, procedentes entre outros do jornal O País, do Rio de Janeiro, aparecem sob a rubrica “Revolta”, entre 12 de setembro de 1893 a 25 de novembro de 1893, ao lado da seção “Correio Fluminense”, assinada por Coelho Neto, que também abordava o assunto. A propalada isenção de O Comércio de São Paulo na divulgação do conflito que ocorria no Rio não impediu que a folha ficasse suspensa por alguns meses, a mando do marechal Floriano. Um ano depois do término da Revolta da Armada, o clima era ainda de apreensão, a deduzir pelo anonimato do autor de Notas de um revolto. Exemplo dos mais representativos de revisão dos acontecimentos pela óptica dos vencidos, a obra faz duras críticas à inépcia dos chefes da Armada na condução da revolta, em particular, Saldanha da Gama, como também à atuação do marechal Floriano Peixoto, de quem o autor anônimo procurou tirar todo o mérito quanto ao desfecho do conflito. Dividido em 27 capítulos, as Notas de um revoltoso abrangem os acontecimentos ocorridos na baía de Guanabara, desde o início da revolta, em 6 de setembro de 1893, até o memorável dia 13 de março de 1894, na descrição de todos os pormenores da vida a bordo, operações navais, rivalidade entre os chefes revoltosos, circunstâncias que só podiam ser apreendidas e analisadas por alguém (um alto oficial da marinha, seguramente) que estivesse enfronhado nos segredos da luta. Nem por isso, trata-se de um “diário de bordo”, conforme subtítulo do livro, a sugerir relação imediata entre experiência e escritura, de que são expressão as notas. Se esta podia ser a impressão do leitor na publicação dos capítulos de Notas de um revoltoso no Comercio de São Paulo, outra é a percepção de leitura da obra ao ser transformada em livro, quando é possível perceber que as notas foram revistas posteriormente e reordenadas à luz do desenlace, visto o autor fazer menção aos erros dos comandantes da marinha, causa determinante no desenlace do conflito.