Navegando por Assunto "Literatura francesa - Século XIX"
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Item Alcools : Poèmes, 1898-1913(Nouvelle Revue Française, 1920) Apollinaire, GuillaumeGuillaume Apollinaire (1880-1918) foi um poeta, dramaturgo, contista, novelista, crítico de arte e ensaísta radicado na França. Nascido em uma família da alta nobreza polonesa, Apollinaire viaja muito durante toda a sua infância, mas passa a maior parte do tempo em Roma. No ano de 1900, o poeta muda-se para Paris – centro das artes e da literatura europeia da época -, onde vivencia toda a efervescência cultural do período. Tendo recebido grande inluência da escola simbolista, Apollinaire tornou-se um dos maiores expoentes e defensores dos movimentos de vanguarda do início do século XX, publicando manifestos em apoio ao Futurismo e ao Cubismo. O poeta não se fundamentava em nehuma teoria - como Oscar Wilde com seu Projeto Estético -, mas em um simples princípio: o ato de criar deveria ser proveniente da imaginação, da intuição, pois deveria se aproximar o máximo possível da vida, da natureza, que para o autor era como uma fonte pura. Para o poeta, entretanto, essa “imitação” da natureza deveria ser entrecortada por uma realidade própria do poema, realidade responsável por transformar seu conteúdo em verdade. Apesar de ter publicado novelas de teor erótico, configurando-se inclusive como um entusiasta e divulgador da obra erótica de Sade, até então marginalizada na França, foi com a obra Alcools que o poeta atingiu o reconhecimento da imprensa e do público, estabelecendo assim a sua reputação no meio artístico e tornando-se um dos mais célebres membros do Montparnasse e de Montmartre. A obra, publicada em 1913, se constitui de uma coletânea de 50 poemas escritos entre o período de 1898 e 1913, e não apresenta um esquema preciso de organização. O título Alcools, que a princípio era Eau de vie, só é definido em vias de publicação e aborda o valor metafórico do álcool. Esse título inicial, Eau de vie (“água da vida”, que em francês é compreendido como “aguardente”), configura-se como a metáfora de uma etapa essencial na carreira do poeta, momento em que Apollinaire eleva sua produção a um nível de expressão mais rico. Alcools - a aguardente - vem, então, simbolizar o caráter dual do álcool, que se por um lado corrói, por outro proporciona prazer e viabiliza o transporte para um outro mundo. Nesta obra, poemas com temas místicos vêm mesclados a versos de extrema modernidade técnica, cuja lírica vem representada, sobretudo, pela polissemia, tanto pela estrutura da coletânea como por sua linguagem. Dentre os poemas da obra, destacam-se Zone, poema inaugural que foi considerado o correspondente literário da tela Les demoiselles d’Avignon, de Pablo Picasso.Item Chroniques parisiennes : 1843-1845(Calmann Lévy, 1876) Sainte-Beuve, Charles AugustinFoi ensinando, em Lausanne, em 1837-1838, a história de Port-Royal, que Saint-Beuve (1804-1869) descobre como a crítica e a história literária poderiam servir a edificação de uma “história natural moral”, que ele batiza como “ciência literária”, isto é, a determinação e a classificação, a partir de documentos, literários ou não, das famílias naturais de espíritos. Esta empreitada lhe parece impossível de ser realizada em um mundo onde é abundante o mercantilismo literário. Assim, não basta observar e classificar, também seria necessário julgar e denunciar a decadência de uma literatura mimada pela “indústria”, pelo abuso das cores, pela grandiloquência e pelo falso. Este novo exercício de uma crítica fundada sobre os julgamentos do bom gosto aparece clandestinamente nas Chroniques parisiennes que Sainte-Beuve escreve para a Revue Suisse de Lausanne (1843-1845). Passados os redemoinhos e os alertas da Revolução de 1848 (que o obrigaram a um segundo exílio, em Liège, e lhe deram a ocasião de ter algo a dizer sobre a falsa grandeza do “pai” dos românticos nas aulas sobre Chateaubriand e seu grupo literário), Sainte-Beuve regozija-se com a vitória da ordem moral e social, que novamente torna possível o exercício de uma crítica desacreditada pela anarquia da literatura industrial. Os diálogos semanais que começa em 1849 e continua quase oficialmente no jornal Moniteur, a partir de 1852 e até sua morte em Paris, aparecem como um caso de “polícia literária”. Face aos perigos da corrupção - romantismo e revolução, é importante defender a tradição. “A crítica, assegura o autor, é somente um homem que sabe ler e que ensina os outros a lerem”. Falsa modéstia de um crítico dogmático que deseja inculcar a superioridade de certo classicismo, ignorando as fronteiras e os preconceitos, mas respeitando a medida e o bom senso.Item Danton homme d'État(Charavay Frères, 1889) Robinet, Jean-FrançoisMédico e publicista francês, Jean-François Eugène Robinet (1825-1899) foi estudar em Paris em 1847 e participou da revolução de 1848. Iniciado ao positivismo em 1849 por Segond,foi auditor entusiasta das aulas públicas de Auguste Comte, aderindo, posteriormente, ao positivismo religioso. Em 1851 foi recebido como membro da Sociedade Positivista e designado por Comte, em 1855, como um dos treze executores de seu testamento. Sua casa se torna um abrigo positivista ativo a partir de 1859. Além de ter sido prefeito do sexto distrito de Paris, foi membro da Comuna e ajudou muito proscritos a escapar. Fundou a revista La Politique Positive (1872-1873). Autor de várias obras sobre Georges Jacques Danton, em Danton, homme d’État, narra a vida do tribuno popular, uma das maiores figuras da Revolução Francesa. Ministro da justiça no momento da queda da realeza, foi, em seguida, o primeiro presidente do comitê de salvação pública, antes de ser eliminado por Robespierre em razão de sua oposição ao regime do Terror. Jovial, hedonista e truculento, Danton não pertence à raça dos revolucionários puritanos, escrupulosamente virtuosos; ele nada tem de incorruptível e, por conseguinte, não cessa de seduzir ou de indignar aqueles que se inquietam com as relações do ethos revolucionário com a “moral”. Robinet também aborda a vida de Danton em outras obras: Danton, mémoire sur sa vie privée (1865) e Danton emmigré. Recherche sur la diplomatie da la première republique (1887).Item De l'amour : selon les lois primordiales et selon les convenances des sociétés modernes(1911)Sénancour (1770-1846) foi criado primeiramente por sua mãe em Paris, contudo, sua educação prosseguiu na casa de um padre do campo, perto de Ermenonville, em Fontaine Châalis, onde descobriu a obra de Rousseau. Melancólico e solitário, sofreu agressões de seus colegas no colégio. Em 1789, instalou-se na Suíça como refugiado a fim de escapar do seminário, fez um casamento infeliz e viu sua saúde piorar. Volta a Paris em 1795, quando publica Aldomen, ou le Bonheur dans l'obscurité. Em 1799 publica Rêveries sur la nature primitive de l'homme, obra na qual alterna a contemplação das paisagens da montanha, expressão da melancolia, desejo de mudar a sociedade. Com Obermann, obra publicada em 1804, conquistou a glória junto aos românticos. Sua amargura se expressa por meio do diário de um herói infeliz, devastado pelo tédio, pelas dúvidas e pelas inquietudes. Devaneios e descrições da natureza acumulam-se, como nas Rêveries de Rousseau. Sainte-Beuve e George Sand louvaram o romance, passado quase despercebido, apesar de toda a atenção de Charles Nodier. Vivendo de pequenos trabalhos e do jornalismo, Sénancour também colaborou com a Bibliographie universelle des contemporains. De l'Amour é um pequeno tratado, publicado em 1806, no qual o autor estuda o amor e as diversas questões que a ele se ligam, do ponto de vista da razão e da consciência natural, fora das doutrinas difundidas e consagradas pelos religiosos e políticos. Nesta obra, posiciona-se contra a reação filosófica e religiosa que começa com Chateaubriand, seu espírito de observação e de análise é semelhante ao de Montesquieu e a eloquência emocionada aproxima-se de J. J. Rousseau. Enfim, muitos paradoxos se misturam, dando origem a uma “ciência profunda do coração humano”.Item Dialogues et fragments philosophiques(Calmann Lévy, 1886) Renan, ErnestErnest Renan (1823-1892) foi um escritor, filólogo, filósofo e historiador francês. De orientação racionalista radical, Renan adere completamente às proposições evolucionistas darwinianas ainda incipientes. Além de obras literárias, e outras relacionadas ao estudo da língua, Renan se destacou ao produzir ensaios que abordavam assuntos de cunho sociológico e antropológico e que tratavam – de maneira polêmica - de temas religiosos. Tais obras de temática sacra compõem parte significativa de sua produção e suscitam, desde sua publicação, a cólera da Igreja Católica e de seus adeptos ao tratar da vida de Jesus Cristo como a de qualquer outro homem e da Bíblia sagrada como a de qualquer outro livro histórico. A obra Dialogues et fragments philosophiques é composta por duas partes: Dialogues philosophiques e Fragments philosophiques. Na primeira parte, deparamo-nos com três diálogos; em seguida, encontramos quatro fragmentos filosóficos, constituídos de três correspondências e um ensaio profético sobre o futuro da metafísica. Os diálogos estão dispostos em uma ordem proposital, de maneira que se configurem, de certo modo, como a continuação do anterior. O primeiro diálogo, intitulado Certitudes, tratará da orientação dual do universo, enquanto mecanismo regido por questões biológicas ou por forças obscuras; o segundo diálogo, Probabilités, tratará da busca do objetivo final e dos segredos do universo; por fim, o terceiro diálogo, Rêves procurará tratar da consciência humana e das ideias criadas pela imaginação. O autor ainda salienta que as personagens envolvidas nos diálogos representam, nos diversos degraus da certeza, da probabilidade, do sonho, os lados sucessivos de um pensamento livre, e que elas não designam pseudônimos ou mesmo personalidades da época ou históricas, prática muito comum entre seus contemporâneos. De acordo com o autor, a escolha pela forma do diálogo se explica pelo fato de que essa lhe parece conveniente, já abre espaço para a apresentação de diversos pontos de vista de uma mesma questão sem que se tenha, necessariamente, que concluir ao final. As correspondências tratarão, por sua vez, das relações entre as ciências da natureza com as ciências históricas e das ciências ideais e com as ciências positivas, enquanto o ensaio final procurará esboçar o futuro da metafísica em um mundo positivista. No prefácio introdutório, o autor relata que sua intenção com esta obra era incitar o leitor à reflexão e, por vezes, até mesmo provocar seu senso filosófico por meio de exageros.Item H. B. : [Henri Beyle](La Connaissance, 1920) Mérimée, ProsperA presente obra foi escrita pelo célebre historiador, arqueólogo e escritor romântico francês Prosper Mérimée (1803-1870); sua primeira publicação despontou no universo literário no ano de 1830 e contou com pouco mais de 20 exemplares. Mérimée desenvolveria esse brevíssimo texto em um estudo mais substancioso alguns anos mais tarde. No início da juventude, Henri Beyle, mundialmente conhecido como Stendhal, muda-se em Paris, onde fica hospedado na casa de seu primo, Pierre Daru. Este último o emprega no Ministério da Guerra, onde também trabalhava, e o carrega consigo para campanha da itália. Graças a esse mesmo primo, após alguns anos de formação (1802-1806), Beyle viria desempenhar o cargo de Comissário de Guerra e em 1810, viria a ser nomeado auditor do Conselho de Estado e anexado à administração da casa do Imperador, momento em que vive o apogeu de sua carreira diplomática. Beyle só deixaria o serviço em 1814, após sobreviver à campanha da Rússia. Ao abandonar o cargo, passa mais seis turbulentos anos na Itália, sem dinheiro, sem teto e endividado, até ser extraditado para a França. De volta à sua terra natal, Beyle não dispõe uma posição oficial, mas sua popularidade nos círculos literários, como os de Juliette Recamier de Delécluze ou Philippe Albert Stapfer, o ajuda a se reestabelecer. Neste último círculo, Beyle conhece Prosper Mérimée, em 1822. A amizade entre os dois, a princípio fortemente marcada pela diferença de idade de mais de 20 anos, sendo Stendhal o mais velho, não se inicia de forma imediata, mas as similaridades de gosto e de ideologia – ambos eram anticlericais e epicuristas, por exemplo – acabam unindo os dois intelectuais. A amizade entre eles dura longos anos. Esta obra se constitui, então, de um relato da história de Beyle realizado por seu amigo Mérimée.Item Journal de Stendhal (Henri Beyle) 1801-1814(G. Charpentier, 1888) StendhalStendhal – originalmente Henri-Marie Beyle, Grenoble, (1783-1842) – foi um escritor realista francês que se tornou célebre, sobretudo, por seus romances O vermelho e o negro (Le Rouge et le Noir) e A Cartuxa de Parma (La Chartreuse de Parme). Suas obras buscavam retratar a sociedade da época: Stendhal compreendia o romance como um espelho que se passeia por uma longa via. Suas personagens são construídas a partir de um realismo psicológico, de modo que o autor pintara, de maneira acurada, o lado subjetivo de suas personagens principais. Além de escritor, na época do império de Napoleão, Beyle desempenhou cargo diplomático de cônsul da França na Itália, local em que viveu intensas paixões e pelo qual nutriu grande paixão durante toda a sua vida. Apesar de ter se tornado célebre por seus romances, Beyle ainda deixou uma quantidade expressiva de obras dedicadas à sua autobiografia: é o caso de Souvenirs d’égotisme, Vie de Henri Brulard e Journal, escritas em momentos e situações diferentes de sua vida. Em 1888 surge a primeira edição do Journal, elaborada por Casimir Stryienski, grande estudioso da obra stendhaliana. No entanto, ela se mostra incompleta, pois Stryienski ignorava a existência de seis outros cadernos ainda desconhecidos àquela altura. Uma edição posterior, lançada entre os anos de 1923 e 1934, contou com os cadernos faltantes, mas não conquistou a credibilidade de estudiosos e logo desapareceu das vistas do público erudito, tornando-se novamente acessível após cerca de setenta anos. A presente edição consta da publicação ainda incompleta realizada por Casimir Stryienski em 1888 e compreende os cadernos escritos entre os anos de 1801 e 1814. A obra se configura como uma espécie de diário, em que o autor relata a história de sua vida cotidiana. Aqui, Henri Beyle se mostra inteiramente: são longos anos de descrições das sensações, dos projetos, das questões financeiras, de sucessos, de fracassos amorosos, de pensamentos, de eventos diversos, escritos de maneira direta, sem recuos e sem mesmo uma releitura corretora. Nas palavras do próprio autor, “Sou da opinião de que vale mais exprimir mal a verdade, do que superiormente outra verdade”. Journal se configura, portanto, como um dos mais importantes documentos para a compreensão, não apenas da vida, mas sobretudo do espírito e da obra stendhaliana.Item Journal intime de Benjamin Constant(Paul Ollendorff, 1895) Constant, BenjaminBenjamin Constant (1767-1830) foi um pensador, escritor e político franco-suíço. Era descendente de uma família francesa huguenote que antes de seu nascimento havia se mudado para a Suíça em busca de refúgio contra a perseguição religiosa: de orientação calvinista, a herança protestante se fez marcadamente presente em toda obra do autor. Os dois anos (1783 - 1785) que Constant passa em Edimburgo – período em que conheceu obras que muito influenciaram sua ideologia e escrita, como William Blackstone, David Hume, Adam Smith, Adam Ferguson, Dugald Stewart, entre outros – foram decisivos para sua formação intelectual: o autor se envolve com a carreira política, procurando introduzir os princípios do liberalismo clássico britânico na vida política francesa. Entre os anos de 1788 e 1794, Constant serviu à corte do duque de Brunswick, e em 1789 casou-se com Wilhelmine von Cramm, uma dama da corte. Pouco tempo depois, Constant inicia um relacionamento com Charlotte von Hardenburg, com quem se casa secretamente 15 anos mais tarde e cuja relação foi retratada em seu romance Cécile, que só veio a público na metade do século XX. Em 1794, no entanto, Constant divorcia-se de sua esposa e retorna a Paris em 1795 com aquela com quem manterá um relacionamento intelectual e político tempestuoso, mas bem sucedido: Mme. de Staël. Benjamin Constant se envolveu em diversos movimentos referentes à revolução de 1789: atuou como publicitário e político da Revolução Francesa, tendo inclusive integrado a Assembleia Nacional Francesa. A obra do autor, que possui uma quantidade expressiva de ensaios sobre política e filosofia – dentre elas Cours de politique constitutionnelle (1818-1820) e De la liberté des Anciens comparée à celle des Modernes (discurso proclamado em 1819), além de romances, como Cécile (1811) e Adolphe (1816), conta ainda com escritos de cunho autobiográfico, como Le Cahier rouge (não publicado até 1907) e seu Journal intime (1895), um diário escrito pelo autor entre os anos de 1804 e 1816, e que está divida em quatro partes: “Introduction”, um longo preâmbulo escrito por D. Melegari, no qual podemos encontrar uma pequena biografia do autor, com a apresentação dos fatos que marcaram sua vida – sobretudo na política -, de suas principais ideias e tópicos da elaboração de algumas de suas obras; “Journal intime de Benjamin Constant”, no qual se encontra um relato de sua vida pessoal, literária e política em forma de diário, em primeira pessoa; “Lettres de Benjamin Constant à sa famille”, em que podemos encontrar uma coletânea de cartas enviadas pelo autor a membros de sua família, dentre eles e sobretudo às suas tias Condessa de Nassau e Pauline (Condessa de Loys); e “Lettres de Benjamin Constant à Mme de Charrière de Tuyll”, na qual está disposta uma coletânea de cartas enviadas a Mme de Charrière de Tuyll, compositora e escritora holandesa de expressão francesa. A edição conta ainda com dois apêndices - “Appendice A”, em que estão elencadas algumas obras de autoria de Constant, e “Appendice B”, que se constitui de uma lista de publicações sobre o autor – e com diversas gravuras, dentre elas algumas do próprio Benjamin Constant na infância, juventude e idade adulta e de algumas personalidades citadas ao longo da obra.Item L'éducation sentimentale : histoire d'un jeune homme(Charpentier, 1893) Flaubert, GustaveGustave Flaubert (1821-1880) foi um escritor e crítico de arte francês, que se destacou por inovar a estrutura do romance com as profundas análises psicológicas de suas personagens e com as descrições quase fotográficas de seu meio. Com uma escrita de caráter realista, o autor buscou trazer para suas produções um refinado senso de realidade, bem como lucidez sobre o comportamento social de sua época, tendo sido, por vezes, considerado um moralista. Algumas obras de Flaubert teriam se destacado por apresentar fortes traços de autobiografia. Uma delas é, sem dúvida, A educação sentimental. Em carta enviada a Marie-Sophie Leroyer de Chantepie, escrita quando o enredo do livro era apenas uma ideia incipiente, Flaubert comenta: “Quero escrever a história moral dos homens de minha geração – ou, mais precisamente, a história de seus sentimentos. É um livro sobre amor, sobre paixão; mas uma paixão capaz de sobreviver nos dias de hoje – ou seja, uma paixão inerte.” Podemos dizer, portanto, que em A educação sentimental estamos diante de um romance de fundo autobiográfico, em que Frederico Moreau, protagonista do texto, é uma espécie de representação de Gustave Flaubert jovem, com suas paixões e subsequentes derrocadas. O romance, dividido em três partes, conta a história de Frederico Moreau, um jovem francês que vivenviou a revolução de 1848 e a formação do Segundo Império Francês e que se apaixona por uma mulher mais velha, que, apesar de ser repetidamente traída pelo marido, M. Jacques Arnoux, é muito amada por ele. Vê-se, em A educação sentimental, um misto de realidade objetiva e também de subjetividade latente. Por ter se valido dos anos conturbados que culminaram na revolução de 1848 como pano de fundo para história, esta obra foi considerada por muitos críticos como romance histórico.Item La vie littéraire de Stendhal(Honoré Champion, 1914)Nascido em Grenoble, 1783, e falecido em Paris, em 1842, Henri Beyle, mais conhecido como Stendhal, inseriu seu nome no panteão da literatura ocidental a partir da elaboração de obras de um realismo ao mesmo tempo enxuto e profundo: seu estilo chocava pela “falta de hipocrisia”. Tal fator, de certa forma, dificultava a aceitação de suas obras pelo público. No entanto, Beyle sabia que escrevia para os não-nascidos, e tinha consciência de que só seria verdadeiramente compreendido no século seguinte. Além de escritor, durante o império de Napoleão, Beyle desempenhou cargo diplomático de cônsul da França na Itália, local em que viveu intensas paixões e pelo qual nutriu grande paixão durante toda a sua vida. Dentre suas obras de maior destaque, estão os romances O vermelho e o negro (1830) e A Cartuxa de Parma (1839) e as produções autobiográficas Vie de Henry Brulard (1890) e Journal (1888). Elaborada com o fim de ser um apêndice às obras completas de Stendhal, La vie littéraire de Stendhal se configura como uma coletânea de textos diversos, cujos conteúdos estão relacionados à vida literária de Henri Beyle. Tendo como ponto de partida as principais obras stendhalianas - Vies de Haydn, Mozart et Métastase (1815); Histoire de la Peinture en Italie (1817); Rome, Naples et Florence (1817 e 1827); De l'amour (1822); Racine et Shakespeare (1823 e 1827); Armance (1827); Promenades dans Rome (1829); Le Rouge et le Noir (1830); Mémoires d'un touriste (1838); La Chartreuse de Parme (1839, 1846 e 1927) -, Adolphe Paupe elabora, ao longo de vinte e seis capítulos, uma coletânea de textos heterogêneos: são excertos que tratam dos aspectos da elaboração das obras, da presença do espírito stendhaliano nos livros, de comentários acerca da recepção de seus livros pelo público e pela crítica especializada, das condições históricas – sociais, políticas e econômicas - quando da produção e publicação de cada obra, das relações pessoais, literárias e/ou ideológicas entre Beyle e outros grandes autores e pensadores – como Jean-Jacques Rousseau, Friedrich Nietzsche, Honoré de Balzac , Barbey d’Aurevilly, Taine, entre outros -, da influência exercida por sua obra em outros autores, de alguns prefácios das primeiras edições de cada produção, dentre outros. A edição ainda conta com uma relação comentada dos títulos integrantes da biblioteca de Beyle na França e na Itália e traz, como apêndice, uma cópia da nota de falecimento do autor.Item Le roman naturaliste(Calmann Lévy, 1883) Brunetière, FerdinandFerdinand de Brunetière (1849-1906) foi um importante escritor de história e de crítica literária francês, que publicou artigos e desempenhou papeis executivos na Revue de Deus Mondes a partir de 1875. Além disso, foi professor na Sorbonne, uma das mais célebres e tradicionais univerdades francesas. Configurando-se como um defensor do classicismo racionalista do século XVII, Brunetière opõe-se muitas vezes às escolas vigentes à época, tendo inclusive feito críticas negativas a Gustave Flaubert, mais precisamente à obra Três contos, e a Émile Zola na obra Le Roman naturaliste. Brunetière procurou, nesta obra – que, na verdade, trata de um conjunto de artigos que, assim dispostos, ganharam certa unidade -, apresentar diversos aspectos do romance naturalista: suas origens, suas principais características e tendências, seus temas, bem como a presença da reportagem e do impressionismo nas produções. Tratou, além disso, de realizar um estudo sobre o naturalismo na Inglaterra e na França, apresentando aqui um estudo crítico sobre as obras de Gustave Flaubert e de M. de Maupassant, além de tratar dos naturalistas maiores e menores. O autor ainda procura abordar a erudição no romance, bem como estabelecer uma comparação entre a primeira geração de naturalistas – que produziu por volta de/até 1875 – e a geração contemporânea até o momento em que o livro fora lançado – isto é, década de 1880. Brunetière afirma que suas intenções com essa obra eram, dentre outras, mostrar efetivamente que os naturalistas franceses, servindo-se do nome sob o qual eram designados, não tinham o direito de desviar de seu sentido e de comprometer assim em suas aventuras aquilo a que o autor chamou de “o bom renome de uma grande doutrina de arte”. Além disso, Ferdinand Brunetière pretendeu, com essa obra, opor as condições de uma arte verdadeiramente naturalista - apresentando-as como a probidade da observação, a simpatia pelo sofrimento, a indulgência aos humildes e a simplicidade da execução - aos caracteres mais gerais do naturalismo contemporâneo ao momento da escritura dos artigos. Le roman naturaliste configura-se como um livro de crítica dura e de formação dos valores verdadeiramente naturalistas.Item Manuel de l'histoire de la littérature française(Ch. Delagrave, 1898) Brunetière, FerdinandFerdinand de Brunetière (1849-1906) foi um importante escritor de história e de crítica literária francês, tendo não só publicado artigos como desempenhado papeis executivos na Revue de Deus Mondes a partir de 1875. Além disso, foi professor de língua e literatura francesas na Sorbonne, uma das mais célebres e tradicionais universidades do país. Configurando-se como um defensor do Classicismo racionalista do século XVII, Brunetière opõe-se muitas vezes às escolas vigentes à época, como o Romantismo, o Simbolismo e até ao Naturalismo. Para o autor, a arte e a moral não poderiam ser separadas, e nisso fundamenta suas críticas a Baudelaire e seus demais sucessores do Parnasse, literatos que reclamavam a gratuidade da arte. Brunetière, conhecido como « o Boileau do século XIX » por suas tendências marcadamente classicistas, recebeu o prêmio de Legião de Honra em 1877 e seis anos mais tarde passou a integrar a Académie Française. Apesar de sua postura racionalista, o autor se converte ao catolicismo em 1895, afirmando que a ciência não poderia explicar tudo o que existe e acontece neste mundo. A presente obra trata da primeira edição do seu Manuel de l’histoire de la littérature française, publicado em 1898. A obra, de relevância internacional, procurou elaborar um estudo sobre os movimentos literários na literatura francesa entre os anos de 1515 e 1830. O próprio autor esclarece nos « Avertissements » que esta obra se configura como um estudo introdutório para a elaboração de uma outra mais ampla e detalhada, motivo pelo qual, aqui, o autor se debruçará somente sobre alguns pontos particulares. Nesta produção, o autor substitui a habitual divisão do texto em séculos e gêneros, procedimento comum em obras desse caráter, por uma divisão em épocas literárias [époques littéraires], pois, para ele, seria estranho datar períodos literários se o mesmo não se faz com períodos da física ou da química; bem como estabelecer diferenças categóricas entre gêneros como se faz com as espécies da natureza. O livro vem, portanto, divido em três partes : Livre prémier, Livre II e Livre III. No Livre prémier, intitulado Le moyen âge, que aborda os anos compreendidos entre 842 e 1498, o autor elabora um estudo da formação da língua francesa, bem como da evolução da epopeia e do surgimento e manutenção dos cancioneiros, e discute acerca das obras e contribuições de Alfred de Villon e de Philippe de Commynes. O Livre II, intitulado L’âge classique, por sua vez, vem dividido em três capítulos: La formation de l’idéal classique (de 1498 a 1610), que comporta as três primeiras épocas do período clássico e trata, dentre vários outros assuntos, do renascimento da poesia, das origens do teatro clássico, da formação da Pléiade e das obras de Villon, Ronsard, du Bellay ; La nationalisation de la littérature (de 1610 a 1722), que compreende a quarta, a quinta e a sexta épocas e trata da formação da sociedade preciosista, da fundação da Académie Française, das origens do jansenismo, da comédia e do burlesco, do início da ópera francesa, bem como da obra de diversos e ilustres intelectuais, como Malherbe, Corneille, René Descartes, Blaise Pascal, La Rochefoucauld, Molière, Jean Racine, La Fontaine, Boileau e do célebre Salão da Madame de Lambert ; e La déformation de l’idéal classique (de 1720 a 1801), que compreende as três últimas épocas e trata da elaboração da Encyclopédie , com seus altos e baixos, do gênio cristão na literatura, do fim da tragédia, e de obras de autores como Montesquieu, Marivaux, Voltaire e de Diderot, que contribuíram com o ousado projeto da Encyclopédie, bem como de Jean-Jacques Rousseau, André Chénier, Condorcet, entre outros. O Livre III, intitulado L’Âge moderne, que estuda os anos compreendidos entre 1801 e 1875, vem também dividido em três épocas: na primeira aborda as produções de Chateaubriand, Madame de Staël, Béranger, Stendhal, Lamartine, Prosper Mérimée ; na segunda, trata da obra de Balzac, Michelet, Victor Hugo, Geoge Sand e Sainte-Beuve ; e na terceira, das produções de Théophile Gauthier, Leconte de Lisle, Gustave Flaubert, Ernest Renan, Taine, Charles Baudelaire, Alexandre Dumas Filho, além de traçar um panorama de influências alemãs na literatura francesa.Item Mélanges d’art et de littérature par de Stendhal(Michel Lévy, 1867) StendhalStendhal (1783-1842) foi um escritor realista francês que se tornou célebre, sobretudo, por seus romances O vermelho e o negro e A Cartuxa de Parma. Em 1800, Stendhal alista-se no exército e passa a viver na Itália. Primeiramente auditor no Conselho de estado, ele deixa a carreira militar poucos anos mais tarde. Seu amor pela Itália, no entanto, o convence a se instalar em Milan no ano de 1814. A partir de então, escreve alguns ensaios e, sete anos mais tarde, retorna a Paris. Passa, então a frequentar os salões intelectuais, conseguindo se reintegrar sem grandes dificuldades na sociedade parisiense. Em 1830, já bem aceito em seus círculos, lança sua obra prima: O vermelho e o negro, em que mostra toda a sua magnitude e realismo de seu estilo. No entanto, sua escrita, “deficiente de hipocrisia”, não é bem compreendida pelo público, de modo que em pouco tempo, Stendhal se vê em dificuldade financeira. Retorna, então, à sua amada Itália e só retorna à França por breves temporadas. Em 1839, três anos antes de sua morte, publica seu romance A Cartuxa de Parma e volta a habitar Paris. A presente obra, Mélanges d’art et de littérature par de Stendhal, é um volume integrante das obras completas do autor publicadas pela companhia de Michel Lévy. Esta edição foi lançada no ano de 1867 e se constitui de uma coletânea de nove textos: dentre eles algumas narrativas curtas e alguns ensaios acerca dos mais variados temas e motivos do universo artístico, seja da literatura, da pintura ou mesmo do interior dos célebres salões. No primeiro ensaio, intitulado Du rire, como o próprio título indica, o autor elabora um ensaio sobre o riso, abordando os motivos para o seu surgimento, seu acontecimento, sua incidência na literatura; o segundo texto, intitulado Vie d'André Del Sarto, tratará da vida e da obra do pintor renascentista florentino Andrea del Sarto; em Vie de Raphaël, Stendhal dedicar-se-á à mesma atividade realizada no ensaio anterior, tendo agora em seu centro o pintor Raffaello Sanzio, outro pintor renascentista e florentino; em Le Coffre et le Revenant, Beyle apresenta uma novela ambientada na Espanha que traz em seu centro a história de amor vivida por Fernando e Inês, ameaçada por um casamento forçado desta com Blas Bustos, um velho diretor da polícia de Granado; em Le Philtre, o leitor encontrará uma brevíssima novela cujo tema são os danos causados pelo amor cego e impiedoso; em Salon de 1824, Stendhal elabora um texto crítico sobre suas impressões a respeito do Salão de 1824, evento em que grandes pintores da época, como Eugène Delacroix e Horace Vernet, expuseram suas produções; no texto Journal d'un voyage en Italie, Stendhal apresenta um diário escrito em uma de suas viagens pelo interior da Itália; em Notes d'un diletante, Stendhal, a partir de comentários acerca da ópera Donna del lago, obra de Gioachino Rossini que estava sendo apresentada em Paris na época, faz um sobrevoo sobre outras produções do compositor; D'un nouveau complot contre les industriels é um panfleto publicado por Stendhal em 1825, no qual critica, de forma bem humorada, a presunção dos industriais de se passarem por homens admiráveis e de bem. Trata-se, portanto, de uma obra heterogênea, em que apresenta textos literários, ensaio, crítica de arte, crítica social, biografia e diário de viagem, e que, por isso, pode interessar aos mais diversos leitores.Item Petit traité de poésie française(Alphonse Lemerre, 1891) Banville, Théodore Faullain deThéodore de Banville (1823-1891) foi um poeta, dramaturgo, romancista, jornalista, cronista e crítico de arte francês. Tendo iniciado sua carreira aos dezenove anos, com a obra Les Cariatides, desde então ganhou a admiração e a amizade de renomados escritores de sua época, como Victor Hugo e Theophile Gauthier, e em pouco tempo tornou-se uma referência para poetas incipientes. Sua obra é vasta, sendo composta por prosa, poesia e teatro, além das contribuições a alguns jornais - Le Pouvoir e Le National – e revistas - Revue Fantaisiste - da época. Opondo-se à nova poesia realista e também aos exageros emocionais do romantismo, Banville ligou-se ao culto da beleza e empenhou-se na busca pela pureza formal, tendo nisso muito influenciado grandes nomes da poesia francesa, como Stéphane Mallarmé e Paul Verlaine. Configurou-se, portanto, ao mesmo tempo, como romântico tardio e parnasiano. Em seu Petit traité de poésie française, Théodore de Banvile busca realizar um estudo sobre os componentes formais da poesia, como o verso, a rima, música, a escansão, o pé, as sílabas e as cesuras, bem como as formas “fixas” da poesia, como o rondó e a balada. Trata-se, portanto, de uma espécie de manual de versificação, que deve ajudar seu leitor a compreender o processo de versificação da poesia francesa, desde a Renascença até o Romantismo. Além disso, a busca evidencia seu interesse pelas relações entre música e poesia - sendo ele mesmo um apreciador de música clássica e popular - em seu Petit traité de poésie française, o poeta ressalta, já na introdução do livro, que o verso é a palavra humana ritmada de modo a poder ser cantada, e que todos os versos são destinados a serem cantados e só existem sob essa condição. Alguns anos após sua publicação, esta obra encontrou-se no centro da disputa sobre a questão do futuro do verso francês: de um lado, os parnasianos defendiam a pureza do verso tradicional, reformado por Victor Hugo; de outro, simbolistas e decadentes militavam em favor do verso livre. Cada um dos dois partidos defendeu bravamente sua teoria, apelando para a autoridade de Banville. Seus argumentos, utilizados ora por parnasianos, ora por simbolistas, revelam o impacto do Petit traité de poésie française sobre a evolução do verso na década de 1880.Item Portraits contemporains(Calmann Lévy, 1876) Sainte-Beuve, Charles AugustinSainte-Beuve foi um crítico literário e uma das grandes figuras da história da literatura francesa. Sua metodologia crítica fundamentava-se sobre o fato de que a obra de um escritor seria primeiramente todo um reflexo de sua vida e se poderia explicar por ela; este método se estabelece sobre a busca do intento poético do autor (intencionalismo), e sobre suas qualidades pessoais (biografismo). Tal sistema esteve esporadicamente à mercê de críticas subsequentes: Marcel Proust, em seu ensaio ‘Contre-Saint-Beuve’, foi o primeiro a contestar a visão crítica do escritor francês, e a escola formalista russa, bem como os críticos Curtius e Spitizer, os seguiram neste caminho. A obra Portraits contemporains lança uma renovação do olhar moderno sobre a obra de Sainte-Beuve, e é fonte insubstituível de conhecimentos sobre o Romantismo francês, além de comportar reflexões acerca do estatuto da literatura e da intelectualidade. A obra apresenta-se em cinco tomos.Item Portraits littéraires(Garnier Frères, 1862) Sainte-Beuve, Charles AugustinSainte-Beuve foi um crítico literário e uma das grandes figuras da história da literatura francesa. Sua metodologia crítica fundamentava-se sobre o fato de que a obra de um escritor seria primeiramente todo um reflexo de sua vida e se poderia explicar por ela; este método se estabelece sobre a busca do intento poético do autor (intencionalismo), e sobre suas qualidades pessoais (biografismo). Tal sistema esteve esporadicamente à mercê de críticas subsequentes: Marcel Proust, em seu ensaio ‘Contre-Sainte-Beuve’, foi o primeiro a contestar a visão crítica do escritor francês, e a escola formalista russa, bem como os críticos Curtius e Spitizer, os seguiram neste caminho. Em Sainte-Beuve inicia a série das Causeries du lundi – 15 volumes, que serão decisivos para divulgação do “método de Sainte-Beuve”, desenvolvendo um discurso reacionário, na defesa de um racionalismo anticlerical e, sem desfrutar de liderança junto à juventude, foi, inclusive, impedido de dar aulas no Collège de France. Os artigos inicialmente escritos para Le Globe, de 1827, reescritos, vão compor o Tableau historique et critique de la poésie française et du théatre français au XVIesiècle (1828). A forma dos Portraits não foi aceita sem reservas. Alfred Michiels afirma: “Um sistema, uma ideia lhe interessam menos que uma anedota; fala muito do homem, muito pouco do autor, quase nada de suas doutrinas...”. Já Basbeyd’ Aurevilly dirá: “É o camaleão das obras que estuda e escruta, mas apenas isso”. Após sua morte, em 1869, a repercussão desfavorável de sua linguagem e de seu estilo nos Portraits, sobretudo, incentivaram os julgamentos divididos entre condenar sua moralidade e seu despreparo literário. Por meio destes “retratos”, Sainte-Beuve procura assumir, diante da obra literária, um posicionamento isento e impessoal, visando a compreensão dos autores a partir de pesquisa minuciosa sobre a biografia de cada um, contudo, também estabelece ligações entre a crítica romântica e a crítica científica.Item Salammbô(Charpentier, 1911) Flaubert, GustaveGustave Flaubert (1821-1880 ) foi um escritor francês e um dos principais representantes do realismo. O autor tornou-se célebre na literatura francesa devido à profundidade de suas análises psicológicas, pela sua lucidez ao tratar do comportamento social e pelo estilo acurado na escrita: diferentemente de vários colegas de ofício, o autor levava anos para escrever um único romance, pois dizia que precisava sempre utilizar “a palavra certa”. Desse modo, em Flaubert, o romance realista atinge o equilíbrio jamais visto entre a arte e a realidade. Dentre as suas obras mais importantes, estão Madame Bovary (romance, 1857), A Educação Sentimental (romance, 1869), Trois contes (contos, 1877) e Salambô (romance, 1862). Em sua obra Salammbô, Flaubert elabora uma espécie de romance histórico valendo-se de alguns acontecimentos passados na antiga Cartago: as Guerras Púnicas e a Guerra dos Mercenários. Não tendo contingente suficiente para defender seu território das tropas romanas durante as Guerras Púnicas, o grande conquistador Amílcar Barca recorre à contratação de um imenso número de soldados. Com as vitórias das batalhas, os comerciantes da cidade organizam um festim comemorativo, durante o qual Mâtho, um dos mercenários, se apaixona por Salammbô, filha do general Amílcar Barca. No entanto, não recebendo do grande general a quantia previamente combinada, liderados por Mâtho, os soldados se revoltam contra seu contratante. Tem início, então, a Guerra dos Mercenários. Durante um dos ataques, o manto sagrado da deusa Tanit - a quem Salammbô havia sido consagrada - é roubado. O contato humano com o manto trará consequências irreparáveis para o destino das personagens diretamente relacionadas a ele. Para escrever o romance, Flaubert se desloca para o oriente a fim de impregnar-se da cultura local. Ainda que o enredo tenha sido baseado em sua imaginação, o autor consultou textos de Políbio, Plínio, Xenofonte, Plutarco e Hipócrates para delinear o mundo antigo e descrever a cor local. Desde a sua publicação, em 1862, o romance levantou discussões e divergências de opinião entre críticos, escritores e outros artistas: se, por um lado, recebeu duras críticas de Charles Augustin Sainte-Beuve, por outro, recebeu o apoio de Victor Hugo, Jules Michelet, Hector Berlioz. Ainda assim, o romance se configurou como uma das melhores produções de Gustave Flaubert e uma das mais preciosas joias da literatura mundial.Item Souvenirs d'égotisme - autobiographie et lettres inédites(G. Charpentier, 1892) StendhalStendhal (1783-1842) foi um escritor realista francês que se tornou célebre, sobretudo, por seus romances O vermelho e o negro e A Cartuxa de Parma. Suas obras buscavam retratar fielmente a sociedade da época; suas personagens foram construídas a partir de um realismo psicológico, de modo que o lado subjetivo de suas personagens viesse acuradamente retratado. Além de escritor, Beyle ainda teria desempenhado, durante o império de Napoleão, o cargo diplomático de cônsul da França na Itália, local pelo qual nutriu grande paixão durante toda a sua vida. Além de seus romances, de qualidade comprovadamente inquestionável, Stendhal ainda nos presenteou com sua tríade autobiográfica, composta pelas obras Vie de Henry Brulard, Journal intime e Souvenir d’égotisme, em que o autor fala de sua vida pessoal, profissional, de seus sonhos, sensações, dos projetos, das questões financeiras, de sucessos, de fracassos amorosos, de pensamentos, de eventos diversos que influenciaram em maior ou menor sua existência. A presente obra, Souvenirs d’égotisme, foi escrita no decorrer do ano de 1832, publicada postumamente no ano de 1892 e figura entre suas obras de cunho autobiográfico. Nela, o autor procurou elaborar um livro de memórias que reconstruísse os eventos que marcaram sua vida entre os anos de 1821, quando retorna a Paris, após passar um longo período em Civita-Vecchia, na Itália, e 1830, momento em que é enviado em missão a Trieste. Aqui, o autor se dedicou à escrita de seu cotidiano, enquanto desempenhava cargos diplomáticos na Itália, mas também de suas paixões, desilusões, anseios e de seus pensamentos a respeito de vários aspectos da vida. Nessa obra, o autor busca manter de maneira rígida seu compromisso com a verdade: são memórias, críticas ao seu próprio estilo de escrita, que ele às vezes julga desajeitado, tudo sem realizar nenhum tipo de revisão, como de costume em suas obras autobiográficas. E é justamente essa espontaneidade que confere ao seu texto a verdade por ele almejada: aqui, Stendhal, despojado de qualquer vontade ou necessidade de maquiar ou falsificar as coisas, fala abertamente de suas relações amorosas, geralmente passageiras e moralmente questionáveis. Em suma, ainda que a partir de sugestões, o autor fala de sua depressão. O livro está dividido em duas partes: na primeira, subdividida em doze capítulos, encontramos os cadernos referentes ao diário do autor, aquilo a que propriamente se chamou de Souvenirs d’égotisme; na segunda, por sua vez, encontramos uma coletânea de cartas trocadas entre Beyle e diversos destinatários – dentre eles seu primo, Conde Daru, Métilde, uma de suas grandes paixões, sua tia Pauline, Louis Crozet, Paul de Musset, Honoré de Balzac, entre outros. A obra ainda conta com um prefácio, elaborado pelo estudioso da obra stendhaliana Casimir Stryienski, que trata da acolhida, não apenas das obras do autor, mas sobretudo de sua própria presença nos grandes salões intelectuais de sua época.Item Vers et prose : morceaux choisis(Perrin, 1893) Mallarmé, StéphaneStéphane Mallarmé (1842-1898) foi um poeta e crítico francês. Sua obra influenciou fortemente os artistas do movimento simbolista francês na segunda metade do século XIX, tendo se tornado um dos maiores pilares da lírica moderna. A obra Vers et prose trata de uma pequena antologia realizada pelo próprio Mallarmé com o intuito de aproximar o letrado amador de seu trabalho e, sobretudo, incitar nele a curiosidade e o interesse em suas obras completas. Compreendendo algumas de suas mais célebres produções – como Une dentele s’abolit, Surgi de la croupe et du bond, Hérodiade (fragment), L’Après-midi d’un faune Apparition, Brise Marine, Ses purs ongles très haut dédiant leur onyx, Le tombeau d’Edgar Poe -, Vers et prose, que apresenta duas partes. Na primeira delas, está disposta uma coleção de poemas – de forma livre, sonetos, poemas dramáticos; enquanto na segunda encontram-se, além de algumas produções em poesia em prosa, a tradução para o francês de alguns textos de Edgar Allan Poe, como O corvo e Ulalume. Esta edição conta, ainda, como retrato do poeta em forma de litografia produzida por James M. N. Whistler.Item Vie de Henri Brulard(Emile-Paul, 1923) StendhalStendhal – originalmente Henri-Marie Beyle, (1783-1842) – foi um escritor romântico-realista francês que se tornou célebre, sobretudo, por seus romances O vermelho e o negro e A Cartuxa de Parma. Suas obras buscavam retratar a sociedade da época: Stendhal compreendia o romance como um espelho que se passeia por uma longa via. Suas personagens, no entanto, são construídas a partir do realismo psicológico, de modo que o autor pintara, de maneira acurada, os sentimentos de suas personagens principais. Seu olhar crítico para a sociedade, sua “falta de hipocrisia”, nas palavras de Léautaud, teriam, entretanto, dificultado a aceitação de suas obras em seu meio no momento de suas publicações, obras que viriam a ser devidamente valorizadas alguns anos mais tarde. Vale lembrar que, além de escritor, na época do governo de Napoleão, Beyle desempenhou cargo diplomático de cônsul da França na Itália, local em que viveu intensas paixões e pelo qual nutriu grande paixão durante toda a sua vida. Apesar de ter se tornado célebre por seus romances, Beyle ainda deixou uma quantidade expressiva de obras dedicadas à autobiografia: é o caso de Souvenirs d’égotisme, Journal e Vie de Henri Brulard, escritas em momentos e situações diferentes de sua vida. De acordo com Casimir Stryienski, autor do prefácio da presente edição, “é em 1832 que Beyle começa sua autobiografia sob esse título de Vie de Henri Brulard. (...) Mas ele abandona logo seu projeto; e retorna ao trabalho mais ou menos ao fim de 1835. Suas confissões foram escritas em Cività-Vecchia, onde Beyle, cônsul da França, ocupava seus ócios administrativos e enganava o tédio de seu exílio se estudando e se analisando – não é essa sua paixão dominante que nos revelam todos os seus livros tão transparentes e tão pessoais?” Para o estudioso, nesta obra, Stendhal se endereça aos leitores de 1880 – isto é, aos leitores do futuro - e escreve para eles. Diferentemente do jovem do Journal, aqui, Stendhal mostra-se mais maduro e consciente de si mesmo e escreve aquela que, talvez, possa ser considerada sua obra-prima.