Navegando por Assunto "Literatura brasileira - Século XX"
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Item Colmeia(Monteiro Lobato e C., 1923) Ribeiro, JoãoJoão Batista Ribeiro de Andrade Fernandes (Laranjeiras, SE, 24/08/1860 – Rio de Janeiro, RJ, 13/04/1934), típico intelectual polígrafo, como muitos homens de sua época, tornou-se mais conhecido como gramático e autor de manuais de história do Brasil, enquanto pouco se estudou a crítica literária praticada pelo estudioso sergipano. O livro Colmeia, segunda série de Notas de um estudante, publicado pela editora de Monteiro Lobato, em São Paulo, em 1923, e onde estão reunidos vinte e seis artigos publicados na imprensa, oferece uma amostra da aguda visão de João Ribeiro em relação aos problemas da crítica literária e da arte de seu tempo. Nessa obra de crítica jornalística, o ensaísta consegue articular erudição (estilística e histórica) e leitura criativa no trato com as questões mais áridas da gramática, deixando de lado as leis evolucionistas com as quais abria o Compêndio de história da literatura brasileira (1906), que escrevera com Sílvio Romero. Problemas de estilística são objeto de vários ensaios, cabendo destacar “O primeiro galicismo”, no qual João Ribeiro estuda a origem do nome “Brasil” e “As pessoas do conto”, em que faz distinção entre a apresentação epopeica e a apresentação dramática. O folclore, área de grande interesse de João Ribeiro, comparece, entre outros, nos textos “Contos de índios” e “Sator arepo”, o primeiro acerca da antologia Contos dos índios sul-americanos, organizada por Theodoro Kock-Grünberg, o segundo, investigação acerca dos jogos de anagramas encontrados na tradição popular. A literatura é tratada nos ensaios “Goethe e o Brasil”, “Os ciganos e o fado de Severa”, “A poesia japonesa”, o primeiro acerca de duas cantigas do escritor alemão inspiradas em antigas narrativas dos índios do Brasil, a partir de Montaigne, o segundo, painel histórico da procedência dos ciganos e sua representação na literatura, o terceiro, estudo de ideogramas japoneses. Admirador da Alemanha, Ribeiro nem por isso deixou de tratar de questões, como o arianismo e o anti-humanismo, que já marcavam o mundo cultural alemão, nos textos “A questão da raça ariana” e “A nova Inquisição”. Pioneiro na difusão das ideias de Einstein no Brasil, em particular nas questões relativas ao ensino, cabe destaque aos ensaios “Einstein e a questão do ensino” e “Einstein e os exames”.Item Miss Kate(Livraria Classica Editora de A. M. Teixeira, 1909) Melo, Wilson Ferreira deTristão de Alencar Araripe Júnior (Fortaleza, CE, 27 de junho de 1848 – Rio de Janeiro, RJ, 29 de outubro de 1911), nome consagrado na crítica literária brasileira, volta a trilhar em 1909 os caminhos da ficção, por onde havia iniciado a carreira de escritor, ao publicar, com o pseudônimo Cosme Velho, o romance Miss Kate. A obra veio a público em Lisboa, pela Livraria Clássica Editora, de Antônio Maria Teixeira, devido à dificuldade enfrentada pelos escritores brasileiros de publicar no Brasil. Procurando se alinhar às correntes científicas em moda na época, como acontecia com maior parte da intelectualidade brasileira, Araripe Júnior se afasta de alguns princípios que nortearam seu projeto político-literário de cunho nacionalista, a partir dos quais escreveu seus primeiros romances, e passa a desenvolver, em Miss Kate, uma linguagem baseada nos discursos médico-científicos. Com prefácio de Afrânio Peixoto, prestigiado psiquiatra da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, e epígrafe de Machado de Assis, retirada de O alienista, o romance Miss Kate tem como tema a “insanidade”, objeto de estudo em diversos campos do saber, seja na filosofia, nas ciências médicas, bem como no universo da literatura, principalmente as obras oriundas do movimento Naturalista. Agripino Simões, protagonista da obra, é tido por várias personagens que participam da trama, bem como pelo médico e escritor Afrânio Peixoto, como um “evadido da razão prática”, sofrendo de “asfixia psíquica” e de alucinações constantes. Outros fatores concorrem para agravar o quadro da doença mental de Agripino: a ociosidade, o jogo, a boêmia, o alcoolismo, o fumo, o excesso de viagens, certas leituras filosóficas. A situação de Agripino se complica ao ser envolvido na trama de uma sedutora norte-americana chamada Miss Kate, por quem passa a desenvolver uma relação obsessiva.Item Pasquinadas cariocas(Castilho, 1921) Torres, AntonioAntônio dos Santos Torres (Diamantina, MG, 31 de outubro de 1885 - Hamburgo, Alemanha, 17 de julho de 1934) poeta, romancista, contista, crítico, seminarista, abandonou a batina e se dedicou ao jornalismo. Figura que dominará a década de 1920 pela sua genial verve polêmica, a obra de Torres é marcada por radical antilusofonismo, ou “tamancofobia”, para ficar nos termos do próprio autor, de que é prova o livro Razões da Inconfidência, lançado em 1925 com enorme sucesso. Integrante do movimento nativista Ação Social Nacionalista, a lusofobia do escritor mineiro é reflexo do ambiente de rejeição ao imigrante português, que dominava a imprensa carioca no início do século XX, mas que também se manifestava em outras formas de linguagem, como a caricatura, a música popular, o teatro de revistas e as piadas. Além do português, figuras de destaque da intelectualidade brasileira, como Araripe Júnior, João do Rio, Austregésilo de Ataíde, Olavo Bilac, para mencionar apenas alguns nomes, foram igualmente os alvos preferenciais das críticas ferinas de Antônio Torres, como mostra o livro Pasquinadas cariocas, publicado em segunda edição, em 1921, pela editora de A. J. Castilho, no Rio de Janeiro. A escolha da palavra “pasquinada” para título da obra remete ao italiano pasquinata, vocábulo derivado do nome Pasquino, como era chamada uma estátua encontrada em Roma no ano de 1501, na qual durante certo tempo era costume pendurar sátiras de tom insultuoso contra um alvo pessoal identificado. Com o uso, o termo passou a designar qualquer texto satírico, em verso ou prosa, com o intuito de difamar ou ridicularizar. A veia belicosa de Antônio Torres já se manifesta no prefácio de Pasquinadas cariocas, “Ao leitor que ainda lê prefácios...”, onde em alusão ao seu “tão apedrejado espírito demolidor”, o escritor se defende ao dizer: “Nunca destruí nem destruirei coisa nem pessoa alguma no meu país, pela simples razão de que não há construção mais sólida do que uma mediocridade”. O livro de crônicas de Torres compila 32 textos publicados na imprensa, em que são recorrentes as arremetidas furiosas e demolidoras contra a vida artística e literária brasileira. Um dos vetores dominantes é a crítica mordaz à Academia Brasileira de Letras, em textos como “Sobre a Academia”, “Uma tertúlia de acadêmicos”, “Ces Messieurs de l’Académie”, “Artes, asnos e rabichos”. Os ataques à ABL se particularizam na intolerância por certos “imortais”, sobretudo, Austregésilo de Ataíde, desancado nas crônicas “O perigo da literatura médica”, “A respeito do namoro”, “Em defesa dos animais (Carta do professor Austregésilo de Ataíde)”. Alfredo Pujol, advogado da ABL, também não é poupado, em “Os milhões do livreiro”, em que Torres denuncia a quantia exorbitante cobrada pelo acadêmico para livrar a Academia de pagar os impostos devidos à transmissão da herança do livreiro Francisco Alves para a instituição. A torrente de tolices publicadas na imprensa do Rio de Janeiro quanto da morte de Olavo Bilac é objeto da crônica “A última frase de Olavo Bilac”. Outro vetor, sempre emergente na obra de Antônio Torres, a mencionada “tamancofobia”, patente nas crônicas “Os empresários de banquetes” e “A imprensa amarela”, é dirigida contra Carlos Malheiros, autor do romance Mulata, “livro pornográfico em que há os piores insultos ao Brasil”. Não menos polêmica é a defesa apaixonada da Alemanha, contra os aliados, no cenário da 1ª. Guerra Mundial, nos textos “A liga dos gatos pingados” e “A força de Sansão”.