Religião
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Navegando Religião por Assunto "Igreja Católica - Doutrinas"
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Item L'évangile et l'Eglise(L'auteur, 1904) Loisy, AlfredAlfred Loisy (1857-1940) foi um renomado padre e teólogo francês. Ex-seminarista do Grand Séminaire de Chalons-en-Champagne, foi aluno de filosofia e, em seguida, professor do Institut Catholique de Paris, onde, desde cedo, esteve encarregado do ensino do texto bíblico. Doutor em teologia com uma tese sobre a história do cânone do Antigo Testamento, publicou La composition et l’interprétation historique des Livres Saints em 1892, em que já afirmaria a importância do método histórico-crítico na interpretação das escrituras. Em virtude disso, foi obrigado a afastar-se do Instituto, ao que seguiu a sua indicação, através de amigos, para um posto na École Pratique de Hautes Études em Paris. É nesse momento que publica L’Évangile et l’Église (1902), obra de enorme repercussão — há um exemplar na Casa Fernando Pessoa, por exemplo —, e uma das responsáveis pelo que se chamou de “crise modernista”. Loisy seria, como consequência, excomungado em 1908, conforme decreto promulgado pelo Santo Ofício: “todo mundo sabe que o padre Alfred Loisy, morador da diocese de Langres, ensinou e publicou teorias que arruínam o fundamento da fé cristã...” Foi posteriormente nomeado para a cátedra de História das religiões do Collège de France, que ocupará até 1933, período de numerosa produção exegética: de livros como La Naissance du christianisme (1933) e Les Origines du Nouveau Testament (1936), dentre outros. O Evangelho e a Igreja tem como ponto de partida refutar as teses do teólogo protestante alemão Adolf von Harnack sobre a essência do cristianismo, conforme apresentadas sob forma de conferências em Das Wesen des Christentums (1900) e cuja doutrina principal seria a de que a centro do Evangelho consistiria unicamente na fé em Deus: “só o Pai e não o Filho é parte integrante da pregação evangélica de Jesus”. Para Alfred Loisy, diferentemente, tal essência deve ser buscada não apenas numa espécie de Evangelho de Jesus, ou no que teria sobrado dele, mas na tradição cristã primitiva como um todo: “Se uma fé, uma esperança, um sentimento, um impulso de vontade dominam o Evangelho e se perpetuaram na Igreja dos primeiros tempos, aí estará a essência do cristianismo, mesmo com as reservas que possamos fazer a respeito da autenticidade literal de algumas palavras ou modificações mais ou menos perceptíveis que o pensamento de Jesus deve ter sofrido ao ser transmitido de geração em geração” (p.xxii). Empreende, assim, uma cuidadosa crítica textual, mas em busca também do movimento religioso de que os textos evangélicos teriam sido a “expressão parcial” (p.6). Observa a coloração messiânica de algumas das narrativas do Evangelho, dentre as quais, as da infância do Cristo. Ou a noção de uma esperança coletiva de que se revestiria o anúncio do reino dos céus fundado na escatologia (p.41e ss.) Contesta a dimensão psicológica que Harnack atribuiria à ideia evangélica de filho de Deus. Toda essa atenção aos textos, à sua situação histórica, tanto quanto a afirmação da permeabilidade desses textos a opiniões e costumes contemporâneos a eles, constituíram a razão da polêmica de L’Évangile et l’Église. É possível pressenti-la em momentos em que Loisy, com notável clareza, explicita: “Jesus foi, sobre a terra, o grande representante da fé. Ora, a fé religiosa só pode se apoiar em símbolos mais ou menos imperfeitos” (p.105). Ou em outros, em que situaria, como Ernest Renan, o lugar histórico e religioso de Jesus: “não deixa de ser verdade que Jesus recolheu e deu vida ao melhor do capital religioso de Israel, e que não o transmitiu como um simples depósito que bastaria apenas aos crentes de todas as idades vigiar, mas como fé viva” (p.125). Não deixam de surpreender, contudo, frases que, descontextualizadas pelos leitores de Loisy, foram a causa da proibição do livro, como: “Jesus anunciava um reino, e foi a Igreja que surgiu”. (p.153) Ou ainda: “se o fim do mundo tivesse chegado nos anos que se seguiram à publicação do Apocalipse, o desenvolvimento eclesiástico não teria acontecido, e a Igreja mal teria existido” (p.161). Elas sugerem o caráter de um desenvolvimento doutrinal ilegítimo, elaborado pela Igreja, que Loisy estaria longe de afirmar e contra o qual se manifestaria em Autour d’un petit livre (1903). Ao contrário, para ele haveria algo de bastante positivo na “condição perpetuamente cambiante da inteligência e das vidas humanas” (p.210), às quais o historiador das religiões deve estar atento. Dedica-se, portanto também ao estabelecimento do culto católico (da Virgem, dos santos, das relíquias), que será matéria da última parte de seu livro.