Religião
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Item Le mysticisme en France au temps de Fénelon(Didier, 1865) Matter, JacquesJacques Matter (1791-1864) foi inspetor-geral, pastor, escritor e professor de História Eclesiástica na Faculdade de Teologia Protestante de Estrasburgo. Nasceu em Alteckendorf, em 31 de maio de 1791. Estudou no ginásio Jean-Sturm, depois, no Seminário Protestante e, posteriormente, na Faculdade de Teologia. A fim de aprofundar seus conhecimentos partiu, em 1814, para Göttingen na Alemanha. Mais tarde, mudou-se para Paris, de 1815 à 1817. Em 1817, Matter defendeu duas teses importantes sobre História Antiga e, quatro anos mais tarde, obteve seu título de doutor em Teologia. Foi professor de História no Collège royal de Strasbourg, de 1818 à 1820. Em seguida, foi professor de filosofia no Seminário Protestante, de 1820 à 1843 e de 1846 à 1864. E, posteriormente, professor de História Eclesiástica na Faculdade de Teologia. Fundou algumas revistas pedagógicas, como L'instituteur primaire, le Visiteur des écoles e Le Manuel général d’instruction primaire, com o intuito de ajudar na formação de professores. Foi, também, Inspetor Geral de Bibliotecas. E seguida concentrou-se em suas pesquisas sobre doutrinas filosóficas esotéricas, criando assim a expressão “esotérisme” em francês, empregada no livro L’Histoire Critique du Gnosticisme (1828). Dentre suas principais obras figuram De l'affaiblissement des idées et des études morales, 1841; Le mysticisme en France au temps de Fénelon, 1865. É este que apresenta-se aqui, em sua segunda edição. O Misticismo na França no tempo de Fénelon pretende retraçar uma história do misticismo, sobretudo centrado na figura de François Fénelon (1651-1715), teólogo católico e escritor francês, autor de Les Aventures de Télémaque (1699) e Réfutation du père Malebranche (1687-1688). Percorre, assim, grande parte de seus textos importantes, como os Traité de l’éducation des filles (1687) e Traité du ministère des pasteurs (1688). Mas também alguns de seus opositores, como Jacques-Bénigne Bossuet (1627-1704), não sem assinalar as relações entre Fénelon e o quietismo de Madame Guyon (1648-1717).Item Méditations sur la religion chrétienne(Michel Lévy frères, 1868) Guizot, M.François Pierre Guillaume Guizot (1787-1874) foi um político e historiador francês. Proveniente de família protestante, foi professor de história na Sorbonne, quando participaria ativamente da vida política francesa durante a primeira Restauração, sendo nomeado Conselheiro do Estado em 1818. Foi defensor de uma monarquia constitucional. Em 1822, teve o seu curso de História do governo representativo proibido, quando passaria a dedicar-se mais exclusivamente a estudos históricos, por assim dizer, como Essais sur l’histoire de France (1823) e Histoire de la Révolution d’Angleterre (1826-1827), literários, sobre Shakespeare, de quem foi tradutor. Sob o ministério liberal de Martignac, retoma seus cursos na Sorbonne e é eleito deputado de oposição em 1830. Será ministro do Interior e, posteriormente, da Instrução pública. Com a queda de Thiers, alinha-se à direita e torna-se presidente do Conselho até a Revolução francesa, quando foge com sua família a Londres. Meditações sobre a religião cristã: em sua relação o estado atual das sociedades e do espírito é um volume complementar a outros dois estudos de Guizot. Nele o autor empreende uma defesa da religião cristã face ao mundo moderno, evidenciando a proximidade do cristianismo com os princípios da nova sociedade, com a razão, a ciência – no terceiro capítulo ou terceira meditação, intitulada “O cristianismo e a ciência” – e com a liberdade, já em seu capítulo inicial. Opondo o cristianismo aos detratores que identifica no século XIX, às suas “forças mais contrárias” (p. iii): o positivismo, o racionalismo, o panteísmo, etc., Guizot defenderia o cristianismo como um fundo moral, uma espécie de verdade interior do homem, capaz, só assim, de votar-se à liberdade contra as forças materiais que o assolam. Liberdade também política, em estreita relação com uma “verdade de ordem intelectual”. Para ele, a religião cristã seria “necessária ao firme estabelecimento da liberdade política entre nós” (p. lxii).Item Nouvelles études d’histoire religieuse(Calmann Lévy, 1884) Renan, ErnestJoseph Ernest Renan (1823-1892) foi um escritor, historiador e filósofo francês. Estudante de teologia no Seminário de Issy de 1841 a 1843, formação que interrompeu face a uma crise religiosa, dedicou-se aos estudos do orientalismo, com uma tese de doutorado em filosofia consagrada à obra de Averroès em 1852 e com a publicação de uma Histoire générale et système comparé des langues sémitiques (1855). Nesse momento escreve inúmeros artigos para a prestigiosa Revue des Deux Mondes e para o Journal des débats. Em 1862, ao retornar de uma missão arqueológica à Fenícia, Síria, Galiléia e Palestina, é nomeado professor de hebreu do Collège de France, sendo suspenso pouco depois em virtude de suas afirmações polêmicas sobre Jesus. É quando decide publicar La Vie de Jesus (1863), texto de enorme repercussão – num período, aliás, de várias outras “vidas de Jesus” como as de Auguste Sabatier e Bernhard Weiss – em que busca retraçar a existência histórica de Jesus, facultando ao estudo dos textos bíblicos, do mesmo modo, a possibilidade de uma análise historico-crítica. A ela se seguiriam outros estudos dedicados ao cristianismo, como os sete volumes de Histoire des origines du christianisme (1863-1883). Nesse contexto, situam-se também estes Novos estudos de história religiosa, de 1884, em cujo prefácio defenderia a separação da religião do Estado moderno, para que aquela se torne algo livre, “tão individual como a literatura, a arte e o gosto” (p. ix). Serve-se, para isso, do modelo da Inglaterra e dos Estados Unidos na perspectiva de um “progresso geral das luzes”, quando as “crenças sobrenaturais serão minadas lentamente” (p.xiii), mas sem deixe de sobreviver uma religião em sentido elevado para além dos dogmas da Igreja: “os dogmas são passageiros, mas a piedade é eterna” (p. xx). Estes Novos estudos pretendem-se, contudo, mais amplos do que a sugestão do prefácio e abarcam inúmeros assuntos: desde o paganismo, as traduções da Bíblia, Joaquim de Fiore, Galileu, São Francisco de Assis – este por quem seria devoto e que teria tido, depois de Jesus, “a religião a mais imediata da natureza”(p.iii) – passando por três breves estudos dedicados a Port-Royal, além de textos sobre Espinosa, arte religiosa ou sobre o método experimental em religião, em que afirmaria terem as religiões dos tempos atuais encontrado refúgio no coração, tornando-se poesia e sentimento (p. 11).Item Études évangéliques(Alphonse Picard et fils, 1902) Loisy, AlfredAlfred Loisy (1857-1940) foi um renomado padre e teólogo francês. Ex-seminarista do Grand Séminaire de Chalons-en-Champagne, foi aluno de filosofia e, em seguida, professor do Institut Catholique de Paris, onde, desde cedo, esteve encarregado do ensino do texto bíblico. Doutor em teologia com uma tese sobre a história do cânone do Antigo Testamento, publicou La composition et l’interprétation historique des Livres Saints em 1892, em que já afirmaria a importância do método histórico-crítico na interpretação das escrituras. Em virtude disso, foi obrigado a afastar-se do Instituto, ao que seguiu a sua indicação, através de amigos, para um posto na École Pratique de Hautes Études em Paris. É nesse momento que publica L’Évangile et l’Église (1902), obra de enorme repercussão — há um exemplar na Casa Fernando Pessoa, por exemplo —, e uma das responsáveis pelo que se chamou de “crise modernista”. Loisy seria, como consequência, excomungado em 1908, conforme decreto promulgado pelo Santo Ofício: “todo mundo sabe que o padre Alfred Loisy, morador da diocese de Langres, ensinou e publicou teorias que arruínam o fundamento da fé cristã...” Foi posteriormente nomeado para a cátedra de História das religiões do Collège de France, que ocupará até 1933, período de numerosa produção exegética: de livros como La Naissance du christianisme (1933) e Les Origines du Nouveau Testament (1936), dentre outros. Contemporâneos à publicação de L’Évangile et l’Église, porém sem contar com sua enorme difusão, os cinco estudos reunidos em Estudos evangélicos aprofundam a leitura do texto do Novo Testamento. O primeiro deles, dedicado às parábolas, pretende, conforme afirma na introdução do livro, “examinar a autenticidade, a natureza, o objetivo e o objeto das parábolas”, questionando o fato de elas eventualmente provirem de outras fontes, como da tradição rabínica, ou terem sido interpoladas no texto dos evangelhos sinópticos. Assim, percorre trechos como a visita de Jesus a um dos chefes fariseus (Lucas, 14), para observar o caráter “frágil e arbitrário” da interpolação, que daria a impressão de constituir a parábola o texto de base original, retocada e completada por trechos descritivos ou doutrinais/alegóricos, “ornando a narrativa ou estendendo a sua significação” (p.27). Do mesmo modo, relaciona as parábolas com a “lei da poesia hebraica”, que seria o paralelismo, vendo-as, contudo, como o centro do ensinamento escatológico de Jesus: “em nenhum outro lugar podemos compreender melhor a noção do reino dos céus que Jesus pregou, o papel que atribui para si no reino, e a realidade do Evangelho vivo” (p.101). Os demais estudos concentram-se no Evangelho de João que, segundo Loisy, faria que a alegorização dos fatos, parcial nos evangelhos sinópticos, abarcasse toda a história do Cristo. Estão dedicados à interpretação de quatro momentos precisos: o prólogo (João 1, 1-18), em que interpretaria a questão do logos/verbo, a encarnação do verbo no batismo de João Batista e o modo com que o texto inicial abraça todo o desenvolvimento posterior do Evangelho; “a água e o espírito” (João 3, 1-21), em que analisa o diálogo de Jesus e Nicodemos e a teoria do “nascimento espiritual” associada com o batismo; “o pão da vida” (João 6), sobre a narrativa da multiplicação dos pães e sua relação com o pensamento da eucaristia, o anúncio da traição de Judas e a paixão, a partir de uma “lógica da transcendência que governaria as antecipações do Evangelho de João” (p.305); e, finalmente, “o grande exemplo”, sobre a cena do lava-pés (João 13, 1-20) e sua relação, menos com a ideia de purificação, do que com a concepção da caridade, de uma “vida sacrificada por amor” (p.325).Item La fin du paganisme(Hachette, 1903) Boissier, GastonMarie-Louis-Antoine-Gaston Boissier (1823-1908) foi um historiador e filólogo francês. Graduado em Letras em 1846, foi professor de retórica durante seis anos nos colégios de Angoulême e de Nîmes, antes de lecionar no liceu Charlemagne, em Paris. Alcançou o título de Doutor em Letras, em 1857. Lecionou literatura francesa e latina na École Normale Supérieure. Em 1869, foi indicado para a cátedra de professor de poesia latina no Collège de France. Entre suas principais publicações, destacam-se Cicéron et ses amis (1865, traduzido em português pela editora Renascença em 1946), La religion romaine d’Auguste aux Antonins (1874) e L’Opposition sous les Césars (1875). Tais obras o fizeram ingressar na Académie Française em 1876. Em 1886, tornou-se membro da Académie des inscriptions et Belles-lettres. Administrou o Collège de France de 1892 à 1895, quando foi eleito secretário permanente da Academia francesa. Fez também parte da Real Academia dinamarquesa de Ciências e Letras. O Fim do paganismo retraça alguns dos principais acontecimentos históricos e incidentes que levaram fim ao paganismo. Gaston Boissier interessa-se, para isso, pelo cristianismo do século IV e começa, assim, pelo que chamou de “A vitória do cristianismo”, retraçando a conversão de Constantino, a publicação e dificuldades de implementação do édito de Milão, sobre a tolerância religiosa, e o governo do imperador Juliano. Na segunda parte, intitulada “O cristianismo e a educação romana”, percorre o sistema educacional no império do século IV, dos nobres às classes populares, perguntando-se como o cristianismo teria se acomodado à educação romana. Por fim, a terceira parte, intitulada “Consequência da educação pagã para os autores cristãos”, analisa o tratado De Pallio de Tertuliano, o diálogo Octavius de Minucius Félix, que trata da possibilidade de a fé cristã adaptar-se à cultura tradicional e à filosofia, e a conversão de santo Agostinho.Item L'évangile et l'Eglise(L'auteur, 1904) Loisy, AlfredAlfred Loisy (1857-1940) foi um renomado padre e teólogo francês. Ex-seminarista do Grand Séminaire de Chalons-en-Champagne, foi aluno de filosofia e, em seguida, professor do Institut Catholique de Paris, onde, desde cedo, esteve encarregado do ensino do texto bíblico. Doutor em teologia com uma tese sobre a história do cânone do Antigo Testamento, publicou La composition et l’interprétation historique des Livres Saints em 1892, em que já afirmaria a importância do método histórico-crítico na interpretação das escrituras. Em virtude disso, foi obrigado a afastar-se do Instituto, ao que seguiu a sua indicação, através de amigos, para um posto na École Pratique de Hautes Études em Paris. É nesse momento que publica L’Évangile et l’Église (1902), obra de enorme repercussão — há um exemplar na Casa Fernando Pessoa, por exemplo —, e uma das responsáveis pelo que se chamou de “crise modernista”. Loisy seria, como consequência, excomungado em 1908, conforme decreto promulgado pelo Santo Ofício: “todo mundo sabe que o padre Alfred Loisy, morador da diocese de Langres, ensinou e publicou teorias que arruínam o fundamento da fé cristã...” Foi posteriormente nomeado para a cátedra de História das religiões do Collège de France, que ocupará até 1933, período de numerosa produção exegética: de livros como La Naissance du christianisme (1933) e Les Origines du Nouveau Testament (1936), dentre outros. O Evangelho e a Igreja tem como ponto de partida refutar as teses do teólogo protestante alemão Adolf von Harnack sobre a essência do cristianismo, conforme apresentadas sob forma de conferências em Das Wesen des Christentums (1900) e cuja doutrina principal seria a de que a centro do Evangelho consistiria unicamente na fé em Deus: “só o Pai e não o Filho é parte integrante da pregação evangélica de Jesus”. Para Alfred Loisy, diferentemente, tal essência deve ser buscada não apenas numa espécie de Evangelho de Jesus, ou no que teria sobrado dele, mas na tradição cristã primitiva como um todo: “Se uma fé, uma esperança, um sentimento, um impulso de vontade dominam o Evangelho e se perpetuaram na Igreja dos primeiros tempos, aí estará a essência do cristianismo, mesmo com as reservas que possamos fazer a respeito da autenticidade literal de algumas palavras ou modificações mais ou menos perceptíveis que o pensamento de Jesus deve ter sofrido ao ser transmitido de geração em geração” (p.xxii). Empreende, assim, uma cuidadosa crítica textual, mas em busca também do movimento religioso de que os textos evangélicos teriam sido a “expressão parcial” (p.6). Observa a coloração messiânica de algumas das narrativas do Evangelho, dentre as quais, as da infância do Cristo. Ou a noção de uma esperança coletiva de que se revestiria o anúncio do reino dos céus fundado na escatologia (p.41e ss.) Contesta a dimensão psicológica que Harnack atribuiria à ideia evangélica de filho de Deus. Toda essa atenção aos textos, à sua situação histórica, tanto quanto a afirmação da permeabilidade desses textos a opiniões e costumes contemporâneos a eles, constituíram a razão da polêmica de L’Évangile et l’Église. É possível pressenti-la em momentos em que Loisy, com notável clareza, explicita: “Jesus foi, sobre a terra, o grande representante da fé. Ora, a fé religiosa só pode se apoiar em símbolos mais ou menos imperfeitos” (p.105). Ou em outros, em que situaria, como Ernest Renan, o lugar histórico e religioso de Jesus: “não deixa de ser verdade que Jesus recolheu e deu vida ao melhor do capital religioso de Israel, e que não o transmitiu como um simples depósito que bastaria apenas aos crentes de todas as idades vigiar, mas como fé viva” (p.125). Não deixam de surpreender, contudo, frases que, descontextualizadas pelos leitores de Loisy, foram a causa da proibição do livro, como: “Jesus anunciava um reino, e foi a Igreja que surgiu”. (p.153) Ou ainda: “se o fim do mundo tivesse chegado nos anos que se seguiram à publicação do Apocalipse, o desenvolvimento eclesiástico não teria acontecido, e a Igreja mal teria existido” (p.161). Elas sugerem o caráter de um desenvolvimento doutrinal ilegítimo, elaborado pela Igreja, que Loisy estaria longe de afirmar e contra o qual se manifestaria em Autour d’un petit livre (1903). Ao contrário, para ele haveria algo de bastante positivo na “condição perpetuamente cambiante da inteligência e das vidas humanas” (p.210), às quais o historiador das religiões deve estar atento. Dedica-se, portanto também ao estabelecimento do culto católico (da Virgem, dos santos, das relíquias), que será matéria da última parte de seu livro.Item Le système historique de Renan(G. Jacques, 1905) Sorel, Georges"Georges Sorel (1847-1922) foi um filósofo e sociólogo francês. Autor de estudos em várias áreas, como a meteorologia, a física, a religião, a partir de 1893 afirma sua adesão ao socialismo e ao marxismo, publicando em revistas francesas como L’Ère nouvelle e Le Devenir social. Em colaboração com Hubert Lagardelle, contribuiu para a formulação de uma teoria do sindicalismo operário, momento em que escreveria um de seus livros mais conhecidos, intitulado Reflexões sobre a violência (1908; traduzido em português: Martins Fontes, 1993). Pouco depois, diante do que veria como uma crise do marxismo (La Décomposition du marxisme, 1908) aderiu ao movimento monarquista Ação Francesa de Charles Maurras e participou da revista conservadora L’indépendance, embora tenha se declarado a favor dos bolcheviques diante da Revolução Russa. Seu pensamento influenciou vários políticos e intelectuais da esquerda e da direita no século XX. Foram publicados na França, entre 1983 e 1989, sete números do Cahiers Georges Sorel, com vários artigos dedicados a ele. O sistema histórico de Renan, publicado em 1906, percorre de forma detalhada a obra do importante escritor francês, Ernest Renan, sobretudo a Vida de Jesus e as Origens do cristianismo, observando virtudes como a de ter subtraído à exclusividade de teólogos o estudo das origens cristãs, mas também à dos estudos religiosos, na medida em que essas origens interessariam à história dos costumes, das instituições e das ideias: “acho que o socialismo teria vários ensinamentos a extrair da conquista cristã” (p.2). Este, aliás, seria um dos paralelos organizadores do livro, entre socialismo e cristianismo, a partir do fio condutor dessa “conquista cristã”, que, segundo Sorel, Renan veria atrelada ao judaísmo: “edição do judaísmo acomodada ao gosto indo-europeu” (p.466). Trata-se de uma teoria que, para Sorel, teria um componente misterioso. Segundo ele, “se na Idade Média foi preciso imprimir ao cristianismo a maior deformação para adaptá-lo às necessidades espirituais e morais das raças arianas, como se torna difícil compreender a conquista do mundo Greco-latino por uma religião ainda totalmente semítica?” (p.467). Contra essa hipótese e várias outras de Renan, portanto, Sorel apresentaria as suas próprias, num livro que assumiria, em quase todo momento, o tom polemista. Retomam-se trechos bíblicos, confrontam-se interpretações. No caso dessa dimensão judaica, observaria que “os governos feudais, as cruzadas, a Inquisição” teriam deixado mais rastros do que o profetismo judaico, mas que, apesar disso, o cristianismo teria sido capaz, ao longo da história, de rejuvenescer em várias oportunidades com o interesse sempre de restaurar “alguma coisa dos tempos legendários do cristianismo, de retornar aos sentimentos que animavam as primeiras populações cristãs” (p.76). As crises seriam, assim, retornos à origem apoiados pela Igreja. Nesse sentido, e em diálogo com a obra de Renan, Sorel percorria o que chamou de núcleo fundamental: o período que se estende da morte de Jesus aos tempos de estabelecimento de uma autoridade canônica, período em que veria a importação de noções gregas, ou “ideias arianas” em ambiente semítico e a sua posterior propagação pela Europa, já que o cristianismo “só fez levar as populações arianas um renascimento de sua própria religião” (p.469)"Item La religion romaine : d’Auguste aux Antonins(Hachette, 1906) Boissier, GastonMarie-Louis-Antoine-Gaston Boissier (1823-1908) foi um historiador e filólogo francês. Graduado em Letras em 1846, foi professor de retórica durante seis anos nos colégios de Angoulême e de Nîmes, antes de lecionar no liceu Charlemagne, em Paris. Alcançou o título de Doutor em Letras, em 1857. Lecionou literatura francesa e latina na École Normale Supérieure. Em 1869, foi indicado para a cátedra de professor de poesia latina no Collège de France. Entre suas principais publicações, destacam-se Cicéron et ses amis (1865, traduzido em português pela editora Renascença em 1946), La religion romaine d’Auguste aux Antonins (1874) e L’Opposition sous les Césars (1875). Tais obras o fizeram ingressar na Académie Française em 1876. Em 1886, tornou-se membro da Académie des inscriptions et Belles-lettres. Administrou o Collège de France de 1892 à 1895, quando foi eleito secretário permanente da Academia francesa. Fez também parte da Real Academia dinamarquesa de Ciências e Letras.Item Les religions orientales dans le paganisme romain(Ernest Leroux, 1907) Cumont, FranzFranz-Valéry-Marie Cumont (1868-1947) foi um historiador, arqueólogo e filólogo belga. Conhecido por seus estudos sobre os cultos pagãos em Roma, publicou livros fundamentais sobre o deus Mitra e o mitraísmo. Foi professor na Universidade de Gand de 1892 à 1910, atividade à que se somou a curadoria do Museu Real de Belas-Artes de Bruxelas de 1899 à 1912. Em 1910, o ministro da educação belga, membro do partido católico e defensor da igreja, se recusou a nomeá-lo para a cadeira de História das Religiões. Sendo assim, Cumont mudou-se para Paris e depois para Roma, onde dedicou seu tempo às religiões do Império Romano. Suas expedições a Síria e Turquia foram substanciais para o aprofundamento dos estudos sobre o deus Mitra, contribuindo com novas revelações baseadas em desenhos e inscrições. Em 1936, recebeu o prêmio Francqui. Foi membro da Academia Romena. Suas principais obras foram Les Mystères de Mithra (1900), traduzido em português (Editora Madras, 2004), Les Religions orientales dans le paganisme romain (1906) e Lux Perpetua (1949). As Religiões Orientais no Paganismo Romano provêm de um conjunto de conferências de Franz Cumont organizadas pela Fundação Michonis do Collège de France em 1905. Nelas o autor se interessa pela propagação dos cultos orientais no período romano. Seriam eles e a voga do neoplatonismo “os fatos capitais da história moral do império pagão” (p. viii), com a mudança do eixo moral de um bem soberano alcançado em vida, para algo que seria atingido após a morte. Os mistérios orientais teriam revelado a seus adeptos “perspectivas radiantes de uma beatitude eterna” (p. xix), fazendo com que a existência terrena fosse vista como uma preparação. Em oito capítulos, Cumont percorre, assim, as causas que teriam favorecido a propagação desses cultos, distinguindo-os a partir de fontes literárias relativamente pouco numerosas, como o tratado de Plutarco sobre Ísis e Osíris, documentos epigráficos e arqueológicos, como hieróglifos, tábuas cuneiformes, etc. Apresenta, assim, cada um deles, em capítulos e subcapítulos dedicados, respectivamente e dentre outros: à chegada de Cibele a Roma, ao culto frígio, ao judaísmo, ao Egito e ao culto de Serápis, com sua difusão na Grécia e adoção por Calígula, ao mitraísmo, à astrologia e à magia.Item Le Dogme de la Trinité dans les trois premiers siècles(Émile Nourry, 1907) Dupin, AntoineAntonie Dupin é um dos pseudônimos utilizados por Joseph Turmel (1859-1943), historiador e teólogo francês. Formando em filosofia e teologia pelo Grande Seminário da Arquidiocese de Rennes, Turmel foi ordenado padre em 1885 na Faculdade de Teologia da Universidade de Angers e, no mesmo ano, começou a lecionar Doutrina Dogmática. Seus pontos de vista liberais o levaram a perder sua cadeira na Universidade. Após isso, passou grande parte de sua vida – de 1893 à 1930 – exercendo a atividade de capelão num convento de freiras em Rennes. Durante esses anos, dedicou-se ao estudo dos dogmas e tornou-se perito em Patrística. Na época do Modernismo, Turmel era visto como um influente pensador. Em 1886, Turmel dizia ter perdido a fé católica, porém continuou seus vínculos com a Igreja. Começou a publicar artigos e parte de suas obras levava seu nome e outra parte, o de pseudônimos, dentre eles: Henri Delafosse, Louis Coulange, Hippolyte Gallerang, Guillaume Herzog, Edmond Perrin, André Lagarde e Antoine Dupin. Em 1910, recusou-se a fazer o juramento antimodernista. Assim, iniciou-se o processo de excomunhão, que se deu em 6 de novembro de 1930. Suas obras foram condenadas e proibidas pelo índex da Igreja Católica Romana. Turmel morreu em 5 de fevereiro de 1943, durante a Primeira Guerra Mundial. Suas principais obras são, como Joseph Turmel, a Histoire des dogmas (6 volumes, 1931), como Antoine Dupin, Le dogme de la Trinité dans les trois premiers siècles (1907) e Réfutation du catéchisme (1937) e, como Louis Coulange, Catéchisme pour adultes (2 volumes, 1929). O breve estudo O Dogma da trindade nos três primeiros séculos percorre em três capítulos as origens do que chamaria, no primeiro deles, de Tríade cristã: Deus, Cristo e Espírito Santo, com a introdução da fórmula ternária nas cerimônias de batismo do primeiro século, no período de Clemente, e a posterior associação dessa tríade nos rituais litúrgicos sob influência de São Paulo. O segundo capítulo parte noção de logos ou verbo, conforme presente no Evangelho de João, e da dificuldade de sua conciliação com a liturgia, até Orígenes e a teologia das hipóstases, a que se seguiria a Trindade de Tertuliano, para a qual Deus, Jesus e o Espírito Santo seriam graus diferentes da mesma substância (p.42). Por fim, o terceiro capítulo aborda as três Tríades que teriam se popularizado entre os séculos II e III: de Calisto, Sabélio e Tertuliano.Item Histoire des oracles(Édouard Cornely, 1908) Fontenelle, Bernard deBernard Le Bouyer de Fontenelle foi um cientista, filósofo, escritor e dramaturgo francês que nasceu em Rouen, cidade situada no noroeste da França, em 11 de fevereiro de 1657, e faleceu em 9 de janeiro de 1757, com quase 100 anos, em Paris. Sobrinho dos acadêmicos e dramaturgos franceses Pierre e Thomas Corneille, frequentou o Colégio dos Jesuítas, estudou Direito e se dedicou muito cedo à literatura. Aos vinte anos foi contratado por seu tio Thomas como colaborador de sua revista Le Mercure galant, que tratava de diversos assuntos, sobretudo publicava histórias para entretenimento dos leitores e poesias. Em 1680 publicou a tragédia Aspar, cuja representação foi um fracasso. Ele, então, retornou para Rouen, e publicou entre 1682 e 1687 textos que o tornaram mais conhecido como filósofo e cientista do que como poeta (ele escreveu valiosos poemas, óperas e tragédias). Entre suas numerosas obras, as mais conhecidas são: La République des philosophes (A República dos Filósofos), romance utópico que exalta uma democracia radical, materialista e ateia; Les Dialogues des Morts (Diálogos dos Mortos), nos quais reproduz diálogos fictícios entre Sêneca e Scarron, Sócrates e Montaigne; um artigo irônico sobre a rivalidade entre as religiões judaica, católica e calvinista; Entretiens sur la pluralité des mondes (Debates sobre a pluralidade dos mundos), um ensaio sobre astronomia, no qual Fontenelle populariza os conhecimentos de Descartes e Copérnico; De l'origine des fables (Da origem das fábulas), um tratado sobre a origem das fábulas. Um homem dotado de vasto conhecimento, além de muitos ensaios científicos, escreveu também sobre a história do teatro e reflexões sobre poesia. Em 1687 publicou uma de suas grandes obras, Histoire des Oracles, um ensaio no qual denuncia a crença em superstições, traz à tona a história dos oráculos e semeia dúvidas sobre aspectos sobrenaturais. Inspirado em um tratado latino sobre oráculos, escrito pelo médico holandês Antonius van Dale em 1683, examina alguns comportamentos irracionais, baseados em crenças, e suscita, em sua obra, reflexões pungentes a respeito do assunto, promovendo um ataque direto ao cristianismo.Item La religion d'Israël(L'auteur, 1908) Loisy, AlfredAlfred Loisy (1857-1940) foi um renomado padre e teólogo francês. Ex-seminarista do Grand Séminaire de Chalons-en-Champagne, foi aluno de filosofia e, em seguida, professor do Institut Catholique de Paris, onde, desde cedo, esteve encarregado do ensino do texto bíblico. Doutor em teologia com uma tese sobre a história do cânone do Antigo Testamento, publicou La composition et l’interprétation historique des Livres Saints em 1892, em que já afirmaria a importância do método histórico-crítico na interpretação das escrituras. Em virtude disso, foi obrigado a afastar-se do Instituto, ao que seguiu a sua indicação, através de amigos, para um posto na École Pratique de Hautes Études em Paris. É nesse momento que publica L’Évangile et l’Église (1902), obra de enorme repercussão — há um exemplar na Casa Fernando Pessoa, por exemplo —, e uma das responsáveis pelo que se chamou de “crise modernista”. Loisy seria, como consequência, excomungado em 1908, conforme decreto promulgado pelo Santo Ofício: “todo mundo sabe que o padre Alfred Loisy, morador da diocese de Langres, ensinou e publicou teorias que arruínam o fundamento da fé cristã...” Foi posteriormente nomeado para a cátedra de História das religiões do Collège de France, que ocupará até 1933, período de numerosa produção exegética: de livros como La Naissance du christianisme (1933) e Les Origines du Nouveau Testament (1936), dentre outros. A religião de Israel relata a história da religião judaica de seu surgimento até o período cristão, percorrendo as práticas de seu culto e suas crenças face a outras religiões da antiguidade, tanto quanto compreendendo as suas transformações ao longo do tempo. Para isso, Alfred Loisy se serve, ainda uma vez, de uma “crítica das fontes”, observando como vários dos livros do Antigo Testamento não deveriam ser considerados como escritos homogêneos, mas “compilações anônimas, baseados em fontes anteriores, de origem diversa”(p.10). Dividido em seis capítulos intitulados, respectivamente, “as fontes”, “as origens”, “o iaveísmo antigo”, “o profetismo”, “o judaísmo”, “o messianismo”, analisa, assim, o texto bíblico, testemunhos históricos do período e outros textos, como O livro das guerras de Iavé. Para afirmar, dentre tantas coisas, que o culto monoteísta judaico não teria procedido de cultos politeístas (p.66). Ou que pode ter havido uma herança do totemismo na representação da serpente na qual teria se transformado o cajado de Moisés (pp.81-82). Observa, igualmente, ritos como o da circuncisão, que teria sido praticada anteriormente no Egito como símbolo de pureza religiosa (p.89). Por fim, estabelece vínculos entre o profetismo judaico e o cristão, não sem percorrer e explicitar a constituição dos diferentes grupos judaicos (fariseus, saduceus, essênios) e a relação deles com o cristianismo.Item L'Essenza del cristianesimo(Fratelli Bocca, 1908) Harnack, Adolf vonCarl Gustav Adolf von Harnack (1815-1930) foi um teólogo luterano alemão e proeminente historiador da igreja. Professor e doutor em teologia, direito, medicina e filosofia, além de conselheiro político, von Harnack é considerado o mais notável teólogo protestante e historiador da Igreja do fim do século XIX e do início do século XX, além de um dos mais importantes teóricos do nacionalismo liberal e protestantismo alemão.O período mais frutífero do autor vai de 1873 a 1912, momento em que Harnack traça, a partir de várias publicações, a influência da filosofia helenística em escritos cristãos, e estimula os cristãos a questionar a originalidade das doutrinas que surgiram na Igreja. Para o autor, o cristianismo deve romper com o dogmatismo teológico e buscar um retorno à religião da Igreja primitiva, ou seja, ao evangelho do próprio Jesus, por meio do estudo rigoroso da história da doutrina cristã. Da mesma forma, ele também rejeitou o Evangelho de João por considerá-lo não histórico e criticou o Credo dos Apóstolos por conta da adição de pontos doutrinais nunca propostos por Jesus ou pelos primeiros líderes da Igreja. A presente obra, “L'essenza del cristianesimo” - originalmente do alemão Das Wesen des Christentums, ou, em português, A essência do cristianismo – foi o resultado das dezesseis conferências proferidas a 600 estudantes na Universidade de Berlim em 1899/1900. Seu conteúdo representa a expressão mais sintética da pesquisa crítica e do projeto da teologia liberal alemã, de modo que a obra se tornou logo um ponto de referência para as discussões teológicas, que atingiram seu ponto mais dramático com a crise modernista, e foi alvo de intensas críticas de teólogos conservadores. O ponto de vista adotado para a reflexão que guia tais conferências é, como dissemos anteriormente, histórico. Aqui, Harnack colocará em discussão temas como as relações do evangelho com as questões sociais, o direito, a justiça superior, as instituiçoes temporais, a civilização, o trabalho, com a questão cristológica, e da doutrina evangélica com o símbolo, além de procurar pensar historicamente o evangelho e a religião cristã no século apostólico, sua revolução rumo ao catolicismo, bem como seu desenvolvimento no catolicismo grego e romano e no protestantismo.Item La chasse aux luthériens des Pays-Bas : souvenirs de Francisco de Enzinas(Louis-Michaud, 1910) Savine, AlbertNesta obra, o autor, editor e tradutor francês Albert Savine reedita as memórias de Francisco de Enzinas acerca da caça aos protestantes nos Países Baixos no século XVI. O ponto de partida para o autor foram as memórias de Enzinas, humanista protestante nascido na Espanha em 1518 e morto na Bélgica em 1552, o primeiro a traduzir o Novo Testamento do grego para o castelhano. A obra trata dos primeiros esforços dos reformadores luteranos, de sua resistência ao rei Carlos Quinto e aos seus ministros. Enzinas, que se referia a si mesmo como Dryander a fim de despistar seus perseguidores, fora estudante da Universidade Católica de Louvain, na Bélgica francófona, onde travou conhecimento de obras e militantes luteranos, dando início à sua carreira de escritor e tradutor, cuja produção fundamentou as traduções de caráter protestante da Bíblia para o espanhol. Esta obra constitui-se de suas memórias, reeditadas por Savine com o intuito de simplificar a leitura ao leitor de francês do início do século XX. A obra conta, ainda, com diversas gravuras, em sua maior parte emprestadas da rica coleção do fazendeiro-general Lallemant de Betz, que ilustram e complementam a produção.Item A propos d'histoire des religions(Emile Nourry, 1911) Loisy, AlfredAlfred Loisy (1857-1940) foi um renomado padre e teólogo francês. Ex-seminarista do Grand Séminaire de Chalons-en-Champagne, foi aluno de filosofia e, em seguida, professor do Institut Catholique de Paris, onde, desde cedo, esteve encarregado do ensino do texto bíblico. Doutor em teologia com uma tese sobre a história do cânone do Antigo Testamento, publicou La composition et l’interprétation historique des Livres Saints em 1892, em que já afirmaria a importância do método histórico-crítico na interpretação das escrituras. Em virtude disso, foi obrigado a afastar-se do Instituto, ao que seguiu a sua indicação, através de amigos, para um posto na École Pratique de Hautes Études em Paris. É nesse momento que publica L’Évangile et l’Église (1902), obra de enorme repercussão — há um exemplar na Casa Fernando Pessoa, por exemplo —, e uma das responsáveis pelo que se chamou de “crise modernista”. Loisy seria, como consequência, excomungado em 1908, conforme decreto promulgado pelo Santo Ofício: “todo mundo sabe que o padre Alfred Loisy, morador da diocese de Langres, ensinou e publicou teorias que arruínam o fundamento da fé cristã...” Foi posteriormente nomeado para a cátedra de História das religiões do Collège de France, que ocupará até 1933, período de numerosa produção exegética: de livros como La Naissance du christianisme (1933) e Les Origines du Nouveau Testament (1936), dentre outros. A respeito de História das religiões reúne cinco artigos anteriormente publicados por Loisy. O primeiro deles provém de um debate com o livro Orpheus (1909) de Solomon Reinach, a propósito da definição de religião a partir da ideia de tabu ou de um sistema de proibições. O segundo, também suscitado pela publicação de Reinach, dedica-se à popularização e ao ensino de história das religiões em ambiente escolar, face, duplamente, a uma neutralidade que poderia ser da ordem da negação religiosa e a um direito da “criança que crê de não ser violentamente despojada de uma fé que é parte integrante de sua vida moral”(p.20). O terceiro artigo percorre as noções de magia, ciência e religião, buscando semelhanças e diferenças entre elas. No caso da magia e da religião, afirma, por exemplo, que ambas são ritos tradicionais que supõem uma força misteriosa, mas possuem relação diversa com o organismo social ao qual pertencem (p.173). O quarto capítulo investiga a personalidade de Jesus em resposta a uma enquete do Hibbert journal de 1909 intitulada “Jesus ou Cristo” e baseada numa pergunta de Robert Richford Roberts sobre se o Jesus histórico não seria incompatível com o Cristo da teologia. O quinto capítulo, por fim, discute o livro O mito do Cristo do filósofo alemão Arthur Drews, segundo o qual Jesus não teria existido historicamente.Item Choses passées(Emile Nourry, 1913) Loisy, AlfredAlfred Loisy (1857-1940) foi um renomado padre e teólogo francês. Ex-seminarista do Grand Séminaire de Chalons-en-Champagne, foi aluno de filosofia e, em seguida, professor do Institut Catholique de Paris, onde, desde cedo, esteve encarregado do ensino do texto bíblico. Doutor em teologia com uma tese sobre a história do cânone do Antigo Testamento, publicou La composition et l’interprétation historique des Livres Saints em 1892, em que já afirmaria a importância do método histórico-crítico na interpretação das escrituras. Em virtude disso, foi obrigado a afastar-se do Instituto, ao que seguiu a sua indicação, através de amigos, para um posto na École Pratique de Hautes Études em Paris. É nesse momento que publica L’Évangile et l’Église (1902), obra de enorme repercussão — há um exemplar na Casa Fernando Pessoa, por exemplo —, e uma das responsáveis pelo que se chamou de “crise modernista”. Loisy seria, como consequência, excomungado em 1908, conforme decreto promulgado pelo Santo Ofício: “todo mundo sabe que o padre Alfred Loisy, morador da diocese de Langres, ensinou e publicou teorias que arruínam o fundamento da fé cristã...” Foi posteriormente nomeado para a cátedra de História das religiões do Collège de France, que ocupará até 1933, período de numerosa produção exegética: de livros como La Naissance du christianisme (1933) e Les Origines du Nouveau Testament (1936), dentre outros. Escrito poucos anos depois de sua excomunhão, Coisas passadas é uma breve autobiografia. Nela Loisy se vê como alguém cuja fé ingênua levou à carreira eclesiástica e que não pretendeu, face à evolução de seu pensamento e diante de questões históricas e teológicas, “provocar no catolicismo uma espécie de cisma ou heresia”. Assim, e ao longo de oito capítulos, testemunha apenas em defesa de sua própria história e do “modernismo católico” que teria sido “traduzido com violência à opinião pública”. Percorre, portanto, desde seus anos anteriores ao sacerdócio, descrevendo sua casa natal em Ambrières e sua dedicação precoce aos estudos, até o momento de sua entrada no Collège de France, para ocupar a cátedra anteriormente pertencente a Jean Réville. Passa, igualmente, pelos momentos conturbados da publicação de L’Évangile et l’Église e de sua excomunhão, revelando trechos de sua correspondência no período e de seu diário, onde anotara: “A ortodoxia é a quimera das pessoas que nunca pensaram (...). Todas as pessoas sabem que o sistema do absolutismo romano, no rigor de suas pretensões, é absurdo, imoral, irrealizável. Mas será esse sistema o catolicismo, e pode-se ser católico hoje apesar da Igreja e do papa?” (p.308).Item Histoire des rapports de l’église et de l’état du 1er au XXeme siècle(Bloud et Cie., 1913) Chénon, EmileÉmile Chénon (1857-1927) foi professor da Faculdade de Rennes por dez anos, e, em seguida, da Universidade de Paris. Historiador, arqueólogo e especialista em História do Direito e das instituições, publicou livros consagrados a histórias regionais, como Histoire de Sainte-Sévère-en-Berry e Histoire de Châteaumeillant, além de uma Histoire générale du droit français public et privé des origines à 1815, publicada em dois volumes (1926-29). Na cidade de Châteaumeillant, no departamento de Cher, região central da França, há um museu arqueológico com o seu nome que reúne uma importante coleção de ânforas itálicas e objetos gauleses e galos-romanos. História das relações entre a Igreja e o Estado apresenta sete conferências de Chénon que datam de 1904 e com as quais busca traçar o lugar da Igreja na sociedade civil francesa, do início da constituição da Igreja até o final do século XIX, com a sua progressiva perda de importância face ao crescimento de uma “cultura laica” propagada pelo Estado. Conforme constata, desde 1880 não teria se passado um ano “sem que não se tomasse alguma medida na França direta ou indiretamente hostil à Igreja católica” (p.236), aliança desfeita que encontraria resposta numa Igreja “democrática e social”, segundo Chénon, desde Leão XIII, e na necessidade de uma “reforma enérgica” (p.238). Divididas cronologicamente e apresentadas com notável didatismo, a primeira conferência percorre do ano 30 até as invasões bárbaras, que levariam à queda do Império Romano do Ocidente em 476, período em que a Igreja se constituiria administrativamente, mediante uma “jurisdição temporal” que remontaria a Constantino (p.26 e ss.). A segunda, intitulada “A Igreja e o Império Franco”, abarca do século V ao século X, passando pela relação da Igreja com as dinastias merovíngia e carolíngia. A terceira e quarta conferências, intituladas “A Igreja e o feudalismo”, descrevem o longo período que vai do século X, com a descentralização do poder político, ao século XVI, com a recentralização de Philippe le Bel, descrito como arrogante (p.104), e sua ação determinante para a deposição do papa Bonifácio VII. A quinta trata das relações entre a Igreja e a Monarquia absoluta, tendo como eixo central a Concordata de Bolonha de 1516 (p.138 e ss.) e percorrendo do início do século XVI até o final do século XVIII, não sem passar pelo Concílio de Trento, pela gradativa restrição dos direitos da Igreja sob Louis XIV, pelo Jansenismo e a expulsão da Companhia de Jesus. A sexta aprofunda o estudo do lugar da Igreja face à Revolução Francesa, apresentando, dentre tantos episódios, a votação da Constituição civil do clero, que, para Chénon, desencadearia “discórdias religiosas” e impediria católicos sinceros de aderir à Revolução (p.176). Explicita, igualmente, o que foi a Concordata de 1801 após a chegada de Bonaparte ao poder, com o reconhecimento da religião católica como a “da maioria dos franceses”. A sétima, por fim, situa a relação da Igreja com o Estado no século XIX: durante o Primeiro Império, com a ruptura estabelecida por Napoleão; a Monarquia e seu posicionamento favorável à Igreja; e o Segundo Império, com especial atenção ao ano 1870, em que teria ocorrido uma reviravolta dessas relações a partir do Concílio Vaticano Primeiro de 1869 e a doutrina sobre a infalibilidade do papa.Item Le problème de Jésus(Ernest Flammarion, 1914) Guignebert, CharlesCharles Guignebert (1867-1939) foi um historiador francês, especialista em história do cristianismo, abordada sob a perspectiva e os métodos de Alfred Loisy, tendo, como este, contribuído para a crise modernista. Aluno de Ernest Renan, foi professor na Université de la Sorbonne de 1906 a 1937 após defender uma tese de doutorado sobre Tertuliano em 1902. Foi autor de livros como Jésus (1933), Le Monde juif vers le temps de Jésus (1935) e Le Christ (1943). O problema de Jesus interessa-se, como já o fizera Renan, pelo Jesus histórico, e pergunta-se desde o início pela realidade ou construção de sua figura. Retraça, para isso, uma história de questionamento do Jesus histórico, partindo de racionalistas do século XVIII como Bruno Bauer ou Albert Kalthoff, responsável por uma teoria que veria nos evangelhos sobretudo um movimento social influenciado pelo apocalipse judeu. Representariam, segundo Guignebert, uma “construção em que se encontram expostos, sob a forma simbólica de uma espécie de biografia, as primícias de um movimento social de tendência messiânica, que evolui rapidamente na direção de uma organização religiosa” (p. 55). No segundo capítulo, trata de alguns sistemas de reconstrução do cristianismo sem Jesus ou, por assim dizer, de explicações do nascimento e propagação do cristianismo com abstração da figura do Jesus histórico, como o de Arthur Drews, autor de O mito do Cristo (1909). Por fim, o terceiro capítulo, intitulado “A historicidade de Jesus”, tenta responder a alguns dos argumentos desses “negacionistas”. Contra Kalthoff, por exemplo, pergunta-se porque uma religião concebida como revolta social pregaria justamente valores como o amor fraterno e a caridade (p.125) ou porque os próprios judeus não teriam negado a existência de Jesus (p. 148).Item L'Impero romano e il cristianesimo : studio storico(Fratelli Bocca, 1914) Manaresi, AlfonsoEste trabalho de Manaresi é composto por um estudo compreensivo, mas não exaustivo, das relações entre a Igreja Cristã e o Estado Romano, abrangendo o período compreendido entre os reinos do imperador Cláudio e o de Constantino. Apresenta-se como uma coleção expositiva de fatos e conclusões bem estabelecidos, valendo-se apenas de documentos de autenticicidade inquestionável. Apesar de não apresentar novas teorias de caráter histórico ou jurídico para explicar a oposição entre o Cristianismo e o Estado Romano, lançando mão de outros estudos e relacionando-os no corpo da narrativa, a obra apresenta grande valor justamente por apresentar rica bibliografia, configurando-se como uma súmula eficaz – ainda que parcial e por vezes conservadora – para o estudo do tema. Seguindo um plano cronológico, e realizando uma discussão não exaustiva das fontes, o autor aborda a tolerância Romana com relação à religião, priorizando a hostilidade direcionada aos cristãos, em um território em que reinava o sincretismo religioso - de que, de acordo com o autor, os próprios cristãos se excluíram, ocasionando a perseguição de seus seguidores. O trabalho é um excelente sumário do que foi realizado em uma difícil e ampla área de pesquisa. Ele apresenta uma leitura mais aproximada de outros trabalhos, é erigido sobre referências acuradas e contém uma excelente bibliografia.Item Les mystères païens et le mystère chrétien(Émile Nourry, 1919) Loisy, AlfredAlfred Loisy (1857-1940) foi um renomado padre e teólogo francês. Ex-seminarista do Grand Séminaire de Chalons-en-Champagne, foi aluno de filosofia e, em seguida, professor do Institut Catholique de Paris, onde, desde cedo, esteve encarregado do ensino do texto bíblico. Doutor em teologia com uma tese sobre a história do cânone do Antigo Testamento, publicou La composition et l’interprétation historique des Livres Saints em 1892, em que já afirmaria a importância do método histórico-crítico na interpretação das escrituras. Em virtude disso, foi obrigado a afastar-se do Instituto, ao que seguiu a sua indicação, através de amigos, para um posto na École Pratique de Hautes Études em Paris. É nesse momento que publica L’Évangile et l’Église (1902), obra de enorme repercussão — há um exemplar na Casa Fernando Pessoa, por exemplo —, e uma das responsáveis pelo que se chamou de “crise modernista”. Loisy seria, como consequência, excomungado em 1908, conforme decreto promulgado pelo Santo Ofício: “todo mundo sabe que o padre Alfred Loisy, morador da diocese de Langres, ensinou e publicou teorias que arruínam o fundamento da fé cristã...” Foi posteriormente nomeado para a cátedra de História das religiões do Collège de France, que ocupará até 1933, período de numerosa produção exegética: de livros como La Naissance du christianisme (1933) e Les Origines du Nouveau Testament (1936), dentre outros. Os mistérios pagãos e o mistério cristão, conforme afirma o prefácio do livro, teve a sua origem num dos cursos de Alfred Loisy no Collège de France dedicado à questão do sacrifício em diferentes religiões – sacrifício que Loisy aprofundaria mais tarde em Essai historique sur le sacrifice (1920. Trata-se, aqui, desse lugar do sacrifício no paganismo, mas também na religião cristã: “há em todos esses cultos um mito da salvação e um rito da salvação estreitamente ligados; o rito como a continuação do fato divino inicial, que exprime o mito, e o meio de perpetuar sua eficácia benéfica. Zagreu devorado e retornado à vida, Deméter perdendo sua filha e a reencontrando, Átis mutilado, morto e ressuscitado, Osíris assassinado e desmembrado por Seth, ressuscitado por Isis, Mitra imolando o touro para a criação dos seres, o Cristo, morrendo para a salvação dos homens e ressuscitando na glória de seu Pai, puseram na origem o fato divino por meio do qual são salvos todos aqueles que, crendo em seu nome, recomeçarão misticamente nos ritos da iniciação sagrada a experiência da divina provação e do divino triunfo” (p.17). Loisy percorre, assim, na primeira metade do livro, cultos, mitos e mistérios consagrados a Dionísio, Orfeu, Elêusis, Cibele e Átis, a Isis e Osiris, Mitra, dentre outros. Na segunda, volta-se ao culto cristão e à pregação de Paulo, perguntando-se “como o Novo Testamento e especialmente as epístolas de São Paulo atestam a metamorfose que do profeta que anunciava o reino de Deus, do Messias que veio realizar a esperança de Israel, fez um deus salvador, um ser celeste encarnado para abrir aos homens por sua morte e sua ressurreição o caminho da imortalidade” (p.22).