Études évangéliques

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Data

1902

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Alphonse Picard et fils

Resumo

Alfred Loisy (1857-1940) foi um renomado padre e teólogo francês. Ex-seminarista do Grand Séminaire de Chalons-en-Champagne, foi aluno de filosofia e, em seguida, professor do Institut Catholique de Paris, onde, desde cedo, esteve encarregado do ensino do texto bíblico. Doutor em teologia com uma tese sobre a história do cânone do Antigo Testamento, publicou La composition et l’interprétation historique des Livres Saints em 1892, em que já afirmaria a importância do método histórico-crítico na interpretação das escrituras. Em virtude disso, foi obrigado a afastar-se do Instituto, ao que seguiu a sua indicação, através de amigos, para um posto na École Pratique de Hautes Études em Paris. É nesse momento que publica L’Évangile et l’Église (1902), obra de enorme repercussão — há um exemplar na Casa Fernando Pessoa, por exemplo —, e uma das responsáveis pelo que se chamou de “crise modernista”. Loisy seria, como consequência, excomungado em 1908, conforme decreto promulgado pelo Santo Ofício: “todo mundo sabe que o padre Alfred Loisy, morador da diocese de Langres, ensinou e publicou teorias que arruínam o fundamento da fé cristã...” Foi posteriormente nomeado para a cátedra de História das religiões do Collège de France, que ocupará até 1933, período de numerosa produção exegética: de livros como La Naissance du christianisme (1933) e Les Origines du Nouveau Testament (1936), dentre outros. Contemporâneos à publicação de L’Évangile et l’Église, porém sem contar com sua enorme difusão, os cinco estudos reunidos em Estudos evangélicos aprofundam a leitura do texto do Novo Testamento. O primeiro deles, dedicado às parábolas, pretende, conforme afirma na introdução do livro, “examinar a autenticidade, a natureza, o objetivo e o objeto das parábolas”, questionando o fato de elas eventualmente provirem de outras fontes, como da tradição rabínica, ou terem sido interpoladas no texto dos evangelhos sinópticos. Assim, percorre trechos como a visita de Jesus a um dos chefes fariseus (Lucas, 14), para observar o caráter “frágil e arbitrário” da interpolação, que daria a impressão de constituir a parábola o texto de base original, retocada e completada por trechos descritivos ou doutrinais/alegóricos, “ornando a narrativa ou estendendo a sua significação” (p.27). Do mesmo modo, relaciona as parábolas com a “lei da poesia hebraica”, que seria o paralelismo, vendo-as, contudo, como o centro do ensinamento escatológico de Jesus: “em nenhum outro lugar podemos compreender melhor a noção do reino dos céus que Jesus pregou, o papel que atribui para si no reino, e a realidade do Evangelho vivo” (p.101). Os demais estudos concentram-se no Evangelho de João que, segundo Loisy, faria que a alegorização dos fatos, parcial nos evangelhos sinópticos, abarcasse toda a história do Cristo. Estão dedicados à interpretação de quatro momentos precisos: o prólogo (João 1, 1-18), em que interpretaria a questão do logos/verbo, a encarnação do verbo no batismo de João Batista e o modo com que o texto inicial abraça todo o desenvolvimento posterior do Evangelho; “a água e o espírito” (João 3, 1-21), em que analisa o diálogo de Jesus e Nicodemos e a teoria do “nascimento espiritual” associada com o batismo; “o pão da vida” (João 6), sobre a narrativa da multiplicação dos pães e sua relação com o pensamento da eucaristia, o anúncio da traição de Judas e a paixão, a partir de uma “lógica da transcendência que governaria as antecipações do Evangelho de João” (p.305); e, finalmente, “o grande exemplo”, sobre a cena do lava-pés (João 13, 1-20) e sua relação, menos com a ideia de purificação, do que com a concepção da caridade, de uma “vida sacrificada por amor” (p.325).

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